quinta-feira, 12 de abril de 2018

PRIMEIRAS RIQUEZAS DE MARABÁ

Pintura a Óleo de Domingos Nunes
Até 1913 Marabá fazia parte integrante do município de São João do Araguaia, nesse ano, porém, atendendo ao apelo do povo marabaense, representado por grandes proprietários e influentes políticos, o Governo do Estado erigiu Marabá município autônomo, por Lei 1.271 de 27 de Fevereiro de 1913. Conquistada sua autonomia, dirigido por homens trabalhadores e de boa vontade, crescidas as ruas rendas com o comércio então vultuoso do caucho, Marabá entrou numa fase de auspicioso progresso, atraindo para o seu território uma população ordeira e batalhadora, em apreciável maioria vinda dos altos sertões de Goiás e Maranhão, além de uma numerosa colonia síria.


A queda do preço do caucho causou certa retração expansionista, desfalcadas as rendas públicas do seu principal produto. Mas, ao chegar o ano de 1920, com a valorização da castanha no mercado internacional, reencetou o seu surto progressista, sendo um dos mais promissores em todo o Estado, como se poderá ver do quadro das rendas arrecadas pelo município:
  

1913      37:647$396
1914      45:000$000
1915      35:879$000
1916      46:197$000
1917      47:340$000
1918      46:950$396
1919      42:463$000
1920      41:887$377
1921      70:298$719
1922      80:633$519
1923    185:206$837
1924    208:638$322
1925    405:000$000
1926    208:834$049

A receita do ano de 1926 estava orçada em 301:100$000, computada até o dia 30 de junho a quantia de 288:890$264. Mas, em 1922, pelo Decreto de 29 de Dezembro, o município de Marabá anexou o de São João do Araguaia, cujo território lhe ficou incorporado, acrescendo a sua população de cerca de 5 mil habitantes e de ricos e extensos castanhais.

Discorrendo em 1924 sobre a vida econômica do município, assim se referiu, de público, o secretário municipal Arthur Guerra Guimarães: "A cifra dos gêneros exportados pelo município o ano passado (1923) atingiu a 3.160 contos, valor oficial da exportação de:

61.700 hectolitros de castanha;
43.634 quilos de caucho

E mais, outros gêneros de menor importância cuja lista acrescentamos:

   326 couros de veado
   517 couros de boi espichados
   364 litros de copaíba
1.000 quilos de algodão

Para termos o verdadeiro valor dessa exportação, isto é, o valor comercial desses gêneros, havemos de adicionar mais a importância de 474 contos de impostos de exportação cobrados pelo Estado sobre os gêneros provenientes do município, porque o comprador estrangeiro, na oferta do preço, desconta a importância dos impostos e despesas a pagar. De modo que, quem paga os impostos de exportação sejam do município ou do estado, é o produtor. Assim temos para valor comercial de exportação do município para o ano de 1923 3.634 contos.

Os negociantes tiveram lucros, os trabalhadores tiveram saldos, as compras em Belém foram pagas e não tivemos uma só casa comercial que não saldasse compromissos. Os salários elevaram-se consideravelmente. Os gêneros de produção regional estão valorizados. A vida, por isso mesmo, torna-se mais cara, mas em compensação, as facilidades de aquisição dos meios de viver foram ampliados.

A Intendência arrecadou, ou seja, mais da receita orçada e,        185:206$837
apesar das despesas atingirem                                                      146:311$671
o exercício fechou com saldo de                                                      50:428$103
maior, portanto, do que a renda de qualquer dos exercícios de 1923 a 1920.

O balanço da Intendência do ano financeiro de 1923, tendo todas as despesas pagas, encerrou-se a 31 de dezembro com um saldo de dinheiro em caixa de 41:947$850


O município evidentemente já tem uma produção bem regular, o seu comércio consideravelmente desenvolvidos, aumentados os seus gêneros de exportação, com o babaçu e o caucho em maior escala, e alcançando a castanha o vertiginoso preço de 110$000 o hectolitro na praça de Belém.


Cerca de 70 motores, alguns com capacidade superior a 300 barricas de castanha, facilitavam o transporte de gêneros a exportar e abrindo grandes horizontes nas transações comerciais com os sertões goiano e maranhense pela rapidez e facilidade das comunicações.

Em 1926 o município sofreu a grande calamidade pública que devastou toda a feracíssima e imensa zona tocantina com a enchente formidável dos rios Tocantins e Araguaia. A contribuir para esse cataclisma, a desvalorização inesperada da castanha, cujo hectolitro chegou a ser cotado na praça de Belém aos preços de 14$000 e 16$000, apesar da safra ter sido vultuosa, o município teve as suas rendas diminuídas, além de sofrer a destruição completa da sua florescente sede, submersa por mais de um mês pelas águas da enchente.

Considerando o ano de 1926, algumas culturas incipientes havia por aqui. Nas terras nos arredores de Marabá, nas terras dos sítios Quindangues e São José havia uma pequena plantação de café que produzia cerca de 10 arrobas por ano, como a de cana de açúcar, nos sítios Burgo e Floresta, onde se fabricou até 1922, açúcar, rapadura e cachaça para o consumo da cidade.

Afora essas culturas incipientes ou abandonadas, há a pequena lavoura de mandioca, do milho, do arroz, do feijão, do tabaco que não chega sequer para o consumo da cidade, obrigada a importar dos sertões goiano e maranhense todos esses gêneros que o município bem poderia produzir em grande escala.

Pelo verão, nas praias que os naturais dão pitorescamente o nome de vazantes, os pequenos lavradores plantam gêneros de rápida colheita, como o melão, o feijão, a melancia e algumas vezes o fumo e o milho.

Quindangues, São José, Burgo, São Francisco, São Pedro, são fazendas onde se criam algumas centenas de rezes em pastos artificiais, por demais exíguos para alimentarem no verão o gado reunido. Nas ilhas de Jacaré, João Vaz e mais alguns outros, abaixo da cidade, fazem-se soltas de gado que desce do sertão em grandes boiadas nos meses do verão, para abastecimento da cidade e dos lugarejos do Tocantins até Alcobaça.

Alguns proprietários marabaenses, como os Senhores Coronel João Anastácio de Queiroz, Uady Moussalem e Martinho Motta, estão ensaiando o cruzamento do gado do sertão, geralmente pequeno e impróprio para o corte, com o zebú, para o que importaram diversos reprodutores puro sangue. Mesmo com o aumento dos pastos artificiais, a produção do município será, ainda, por muito tempo, insuficiente para o seu consumo, que só na cidade oscila entre 800 a 1.000 rezes por ano.

O comércio de Marabá é ativo e intenso, sobretudo nos meses da safra da castanha. Mas de 40 casas comerciais, algumas fazendo movimento superior a 500 contos por ano, impulsionam o mercado marabaense. Nas épocas de safra valorizada e grandes negócios, não são raros os "patrões" que exportam para a praça de Belém de 3.500 a 4.000 barricas de castanha, que convertidas em hectolitros dão, em média, um acréscimo de 25 por cento. 

Fonte: Viagem ao Tocantins, obra apócrifa escrita em 1926.


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