segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

TURISMO BRASILEIRO: PROBLEMAS EM TODAS AS CAMADAS DE PODER

Barqueiros da Praia do Tucunaré
Os números do turismo no Brasil a partir de 2014 apresentam uma ligeira melhora, temos que considerar a realização da Copa do Mundo de 2014, mas, nada que justifique os bilhões investidos neste acontecimento mundial do futebol, nem mesmo dos Jogos Olímpicos Rio 2016, que são casos bastante comemorados e justificados como quem diagnostica uma doença profunda apenas pelo olhar da epiderme, quando o que subjaz é muito mais significativo e revelador. Considerar o turismo brasileiro na perspectiva do Ministério do Turismo é algo bem animador, a gestão pública do ministério demonstra muito interesse, muito entusiasmo, quase uma razão de ser, pois, eles acreditam muito no que fazem. Somente isso não basta, estão na camada mais externa.

O que vemos é que o Brasil não promove o turismo e este não promove o país, pois, se assim fosse, seríamos um país com mais geração de riquezas, trata-se de encarar a coisa como um investimento de retorno e quase sempre constante. O setor produtivo do turismo parece aquele velhinho no canto da sala, bem vivido e experiente, grande potencial e sem forças para agir. Assim, vamos olhando apenas a epiderme em termos gerais. Culpa de quem? Neste caso é de todos nós que elegemos políticos sem visão de futuro, sem projetos, sem programas e começam e terminam seus mandatos sem nenhum planejamento, diagnósticos de sua realidade econômica e etc, daí, danam-se a fazer praças como se isso fosse tudo.

O que se arrecada através do setor produtivo, para ele deveria retornar para ser reinvestido. É como colocar os recursos para gerarem muito mais, projetar suas riquezas naturais, sua cultura e sua história, que são recursos únicos e quase inigualáveis. A fauna, a flora, a tradição de um povo, sua história, seus monumentos, seus atrativos, tudo isso, jamais haverá de acabar se for reconhecido como uma riqueza que se revigora e se perpetua indefinidamente, muito mais significativo economicamente que a construção de uma praça aqui e outra acolá. Isso representa o gasto de recursos sem a preocupação do retorno, claro que a população precisa de lazer, mas, precisa de empregos também e o gestor de ter o retorno de seus investimentos.

Vejo o turismo em três camadas distintas, a primeira é o Ministério do Turismo e suas políticas públicas, como a epiderme, camada mais externa e mais extensa da pele, a olhar e tentar impulsionar da Capital Federal todas as Unidades da Federação e Municípios, geralmente com a visão de políticos sem ter na veia o que é o turismo. A derme, camada abaixo da epiderme é representada pelas unidades federativas, cujos governantes colocam seus amigos a comandar a pasta, mesmo que a formação do nomeado seja de médico, de advogado ou de outra profissão. Como esperar que o turismo funcione com um profissional de outra área? Assim, os governos estaduais não conseguem entender e implantar as diretrizes nacionais do Ministério do Turismo, coisa que passa de gestão para gestão com crescimentos ínfimos.  As políticas estaduais de turismo de muitos estados ficam guardadas no congelador, longe do sol que pode prejudicar a epiderme e mesmo a derme.


Praça Cipriano Santos
A camada mais interessante, mais profícua, que mais pode fazer pelo turismo são os municípios, neste caso, o problema é bem mais sério e complica todas as premissas de crescimento do setor. O que os prefeitos brasileiros pensam sobre o turismo regional? De modo quase generalizado eles não pensam, não acreditam nas suas potencialidades e nos seus equipamentos turísticos. Eles até acreditam que o turismo é um fator de crescimento das receitas municipais, até sabem das potencialidades. No entanto, são pessoas que não olham para o futuro de seu povo, apenas passam quatro anos em conchavos de diversas maneiras para se perpetuarem no poder. São eles que, com mais constância, colocam pessoas despreparadas a conduzir uma política capaz de gerar milhares e milhares de empregos, pois, quem sabe o que fazer ajuda na economia do município e, o que esperar de quem não sabe? 

Os números do turismo, os eventos são vistos como atrativos, sem, no entanto, nenhum produto a ser comercializado, o secretário de turismo sequer sabe dizer o que é um produto turístico. Infelizmente este problema, nesta metáfora, representada pela hipoderme passa longe dos olhos e dos desejos das autoridades federais, estaduais e suas políticas de turismo.

Cidades dotadas de rica rede de infraestrutura turística de gastronomia, hotelaria, serviços, com aeroportos, centros de convenções não associam nada a estas atividades, não articulam o trade para algo altamente lucrativo, reclamam muito e nada fazem. Do outro lado, o trade se comporta como um ser cego, surdo e mudo, que até consegue andar, mas, não sabe para onde vai e deseja ser conduzido. Os municípios são os espaços de poder que mais matam o turismo nacional, são eles que mais sabem o que podem impulsionar e nada fazem. Os empresários brasileiros investem muito nos seus estabelecimentos e se tornam passivos quando se trata de agir coletivamente, grande parte deles, através de uma junção de setores poderiam causar uma revolução benéfica e vantajosa, principalmente para eles. 

Enfim, os números de visitantes não aumentam, como também não aumentam os faturamentos de hotéis, de restaurantes, todos perdem a esperar pelo secretário de turismo que entende de medicina. Quem mata o turismo local ou regional? É o prefeito? O Secretário de Turismo? E os Empresários? E a sociedade? Quem? Nestes casos o Doutor em Medicina não será capaz de agir nas camadas dos problemas do seu município, nem mesmo no seu modo de ação, não conseguirá sequer usar os recursos destinados para a sua secretaria. Como não mencionar o Rio de Janeiro? Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e o turismo sofre com governantes da esfera estadual e municipal, acho que não preciso dizer mais nada.

Outro dia uma autoridade encaminhou projeto, no qual, cerca de 30 por cento da praia do Tucunaré ficaria reservada para a criação de tracajás, afetando nosso principal balneário, cartão postal, meio de sobrevivência para barqueiros e rabeteiros, o mesmo não considerou outras centenas de lugares viáveis para esta ação de preservação da natureza, claro que não seria uma coisa muito fácil, dada a agitação e o frenesi de pessoas, de barcos e etc. Então, precisamos encontrar as pessoas que querem a promoção social e o desenvolvimento do turismo, muitos há, que além de não fazerem nada ainda atrapalham.

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