Por Diogo
Bercito. Cruzando a porta giratória do hotel, você põe
o pé na calçada. Eles chegam em poucos segundos: taxistas sem licença,
capitães de balsas, guias turísticos e vendedores ambulantes. Prometem um
preço especial (“é meu primeiro cliente do dia!”), lisonjeiam (“só porque você
é brasileiro!”) e desabafam (“desde a revolução de 2011 está muito difícil
fazer negócio aqui”). Em alguns casos, ainda são crianças.
A experiência de passar as férias no Egito, como fez este Orientalíssimo blog
na semana passada, inclui esses tantos encontros inevitáveis. A intensidade do
assédio –às vezes o vendedor caminha por cinco, dez minutos ao seu lado antes
de desistir– é incrementada nos arredores das Pirâmides de Gizé, no Cairo, ou
do templo faraônico de Luxor. Nenhuma estratégia é realmente efetiva para se
esquivar.
Ciente do impacto que esse comportamento pode
ter para o turismo, uma de suas principais indústrias, o governo egípcio
aprovou uma controversa lei: planeja punir os vendedores que assediarem
seus visitantes. A regra foi votada pela Câmara dos Deputados em 23 de
abril, prevendo multas de até 10 mil libras egípcias, o equivalente a R$ 2.000.
“É ultrajante obrigar um turista a comprar algo”, disse o
legislador Mohamed Abdo ao site Al-Monitor. “O assédio aos turistas
não fere apenas eles, mas também o país e nos priva de renda.”
O turismo contribui com cerca de 12% do PIB egípcio. O
recorde de renda do setor foi de R$ 44 bilhões em 2010. Os protestos que
derrubaram seu ditador 2011, no entanto, afugentaram
os visitantes –em 2016 a renda despencou a R$ 14 bilhões,
quase quatro vezes menor.
Apesar de atuarem às margens do mercado formal, e apesar
do constrangimento ao governo, os ambulantes e mendigos concentrados nessas
regiões turísticas representam uma população desesperada após décadas de
miséria. O Egito tinha em 2016 um PIB per capita de R$ 10 mil, em
comparação aos R$ 32.000 do Brasil. São 95 milhões de pessoas em um país
desértico, de limitadas terras cultiváveis.
ORIENTALÍSSIMO
por Diogo Bercito
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