Em face da dificuldade em encontrar
imagens do episódio histórico, pouco divulgado e a inexistência de imagens
a respeito da Rebelião dos Galegos, ilustro esta postagem com uma gravura que remete a localização
aproximada do antigo Burgo Agrícola do Itacaiúnas, de 1943, fonte de Lysias Augusto Rodrigues* - Roteiro do Tocantins, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio
Editora, 1943, p. 210. Então, vários fatores levaram ao declínio do Burgo
Agrícola do Itacaiúnas, povoado que surgiu a partir de 1895, comunidade formada
por imigrantes goianos e maranhenses que em 1896 juntava 222 habitantes,
constituindo 55 famílias, que aqui chegaram dispostos a trabalharem na
agricultura e criação de gado. Foi o Burgo o responsável pelo povoamento na
região, uma vez que vão se estabelecendo famílias e casas e se desenvolvendo
povoados à margem esquerda do rio Tocantins.
A primeira riqueza do lugar,
descoberta, foi a do caucho, atraindo forte migração, principalmente de
maranhenses, goianos e cearenses, fase áurea da borracha na Amazônia. Aquilo
que fez surgir o desenvolvimento do Burgo, também foi um importante fator de sua
decadência, foram vários fatores, começando pela ajuda do governador Lauro
Sodré à Carlos Leitão para se estabelecer com os foragidos de Boa Vista,
recebendo uma quantia em dinheiro, a primeira prestação firmado em contrato de
caráter comercial para fundar àquela Colônia, cujo montante era de duzentos mil
réis, entregues na proporção que os imigrantes fossem se estabelecendo em
grupos de vinte famílias, sendo paga em três prestações, porém, apenas a
primeira no valor de treze mil réis fora paga, por conta do não cumprimento das
cláusulas contratuais.
Era o nascimento de uma comunidade, os
que ali chegavam eram aventureiros e muitos chegavam em situação de extrema
pobreza, Mas, não foi apenas o dinheiro que o Lauro Sodré deixou de mandar. O
caucho deu a sua contribuição positiva fazendo muitos assegurarem sua
sobrevivência em situações complexas, enquanto outros aumentavam suas rendas e
prosperaram comercialmente. E também negativa, o seringueiro para extrair
a seiva derrubava a árvore, razão pela qual, cada vez mais saia para lugares
mais distantes.
Foi no Pontal, entre os rios Tocantins e Itacaiúnas, que os caucheiros conseguiam maior comunicação, comercialização e um porto para comercializarem, fato importante que levou muitos caucheiros a se fixarem no local onde edificaram seus barracões e de lá fornecia-se as mercadorias para o internamento na mata, os aviamentos.
As enchentes expulsaram muitos
imigrantes da colonia agrícola que já era foco de muita malaria e de febre
altíssimas que levavam a morte. Aos poucos o povoado foi se desagregando.
Por outro lado, o Pontal já começava sua significativa transformação, foi um
processo de organização permeado por interesses de um grupo de comerciantes
entre os quais Carlos Leitão, Norberto de Mello, Raymundo Rocha, vindos de
Goiás que aliados aos maranhenses Francisco Casemiro, Celso Bandeira, Antonio
da Rocha Maia estabelecidos no Tocantins em fins do século XIX, tinham
objetivos que não se resumiam simplesmente à exploração do caucho no
Itacaiúnas. Faziam-se representantes locais de interesses muito bem definidos
num contexto muito mais amplo na busca do lucro mercantil. Assim, a
transferência do Burgo para o Pontal, que logo se tornaria Marabá, consagra o
fim da colônia agrícola e sua substituição por um centro eminentemente
comercial. Marca também o declínio do mando de Carlos Leitão.
A exploração do caucho, uma das árvores
produtoras de borracha envolvia certas peculiaridades em relação aos seringais,
uma das quais implicava na destruição das plantas. Este fator contribuirá para
o contínuo deslocamento dos caucheiros em busca de terras pródigas na
matéria-prima, cada vez mais distantes. Havia lutas pela posse dos cauchais,
quer por meios legais, quer pelo uso da violência. Naquelas épocas os
caucheiros delimitavam a área marcando os troncos das árvores com as iniciais
do patrão. Quando a posse não era respeitada por bem, era respeitada pela bala.
As lutas entre os “donos” de cauchais,
entre patrões, numa época em que Marabá se encontrava quase isolada do resto do
Estado, não era uma luta pela terra em si, mas pelo controle das fontes do
látex, pois são as árvores, são os cauchais, que constituem o elemento básico,
motivador da apropriação e só por extensão a terra que contém o caucho. Nessa
luta os caucheiros eram tomados como instrumentos de trabalho, produtores dos
lucros dos patrões que interferiam inclusive de maneira direta no que
consideravam como “lei”. É nesse sentido que percebemos que havia muito uso de
violência no processo de acumulação de riquezas onde as terras não tinham
domínios legais, eram devolutas.
No lugar as brigas e os atritos se
originavam por qualquer discussão sem importância. A ausência de autoridade
constituída para garantia da origem era motivada, sobretudo pela grande distância
entre o povoado nascente e a capital do Estado, agravada pela ausência de
navegação que, na época, era feita por batelões a remo, em viagens que só se
realizavam uma única vez a cada ano. A lei, o direito, eram ditados pela “voz”
do 44 de papo amarelo (rifle de calibre 44, que tem como característica a cor
amarela no papo, isto é, na parte dianteira da coronha, onde se apoia o cano).
BEM NO INÍCIO DA FORMAÇÃO DE MARABÁ, JÁ ERA UMA CIDADE VIOLENTA
Uma luta foi mencionada por Antonio
Sampaio na Revista Itatocan, ocorrida em 1904, entre dois grupos de
“seringueiros” alcançando grande repercussão, até mesmo fora de Marabá. Segundo
o nosso informante envolvendo Francisco Casemiro e Celso Bandeira:
- “a
autoridade era o patrão que dispunha de maior número de seringueiros, ou
capangas às suas ordens. O tiroteio, as desordens eram constantes. Mas, a
que alcançou maior repercussão e proporções aconteceu em 1904 entre dois
grupos armados que travaram um intenso tiroteio apoiados pelos patrões
FRANCISCO CASEMIRO e CELSO BANDEIRA. Este último fugiu com seus homens
depois de ferido, deixando um de seus homens, de nome Ludugero, morto no
local da luta. Celso Bandeira escapou a fúria de seus adversários
refugiando-se em casa do Coronel Atanásio Gomes”.
- "lá
em Baixo, no Marabá, houve um grande barulhão, mataram Ludugero de faca e
rifle na mão, escapou Celso Bandeira por debaixo de um caixão."
(Antonio Sampaio, História de Marabá, Revista Itatocan, março de 1967, p.
12).
A REBELIÃO DOS GALEGOS E OUTROS CONFLITOS
A memória social registra um conflito
que teria ocorrido entre os comerciantes do caucho em que se opunham de um lado
os interesses do goiano NORBERTO DE MELO, estabelecido em Marabá nos fins do
século XIX, e de outro lado, SÍRIOS e LIBANESES, alcunhados então, como ainda
hoje são pela população mais antiga, de “GALEGOS”. Esse conflito ficou
conhecido como “REBELIÃO DOS GALEGOS” e teria ocorrido em 1908.
Nesse conflito teria se tornado
evidente a solidariedade comercial dos libaneses. O conflito teria tomado
proporções tais, envolvendo inclusive, gestões junto ao CONSULADO DO LÍBANO e
ao GOVERNO DO PARÁ, que mandou um representante para mediar o conflito. O que
estava em disputa entre Norberto de Mello e os Libaneses radicados no Maranhão
eram as disputas entre donos do capital por uma parcela maior de domínio do
mercado.
Essas lutas impressionava o missionário
dominicano Audrin, que trabalhou por décadas no Araguaia, onde observa a
decadência moral de Marabá:
- “Marabá
brotara da ganância louca do dinheiro, logo totalmente alheia a qualquer
preocupação religiosa e moral”.
Material extraído da obra: A
Oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais, de Emmi,
Marília Ferreira, 1987 páginas 18 A 34.
A pesquisa sobre a Rebelião dos Galegos
contida na história de Marabá é bastante sucinta, os relatos revelam ser uma
região de muita violência, com outra ocorrência em 1917, quando alguns
caucheiros chegaram para vender a borracha coletada, não encontrando comprador,
resolveram saquear o comércio local, tendo os comerciantes reagidos a bala,
causando várias mortes.
Outro conflito aconteceu em 1919, com a
crise da borracha, desta vez de caráter político. O coronel João Anastácio de
Queiroz, alegando perseguição política, depôs o intendente Pedro Peres
Fontenelles, acusando-o de autoritário. O coronel Queiroz armou a população e
conseguiu um acordo com o chefe do destacamento militar, enviado pelo governo
do Estado, dessa forma ele tomou o poder. Este conflito marca o momento do
declínio do caucho e o início da exploração da castanha.
Material extraído da obra: História
de Marabá, de Mattos de, Maria Virgínia Bastos, 1996, páginas 28
a 30.
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