Vamos
descobrir sobre uma revolta que aconteceu em Marabá, mas, por enquanto vamos
tentar desenhar um quadro de sua época, bem no começo aqui era tudo floresta,
mata fechada, quando chegaram os pioneiros que chegaram ao Burgo Agrícola do
Itacaiúnas e, seu crescimento e a descoberta e a exploração de riquezas como o
caucho e a castanha, trouxeram para cá inúmeros aventureiros e desbravadores,
ávidos por conseguirem uma vida melhor nestes rincões. Entramos pela porta da
história num cenário rural onde predominavam as riquezas livres, cujas terras
ainda não tinham proprietários, muito menos os produtos de origem vegetal e
animal.
Crescia
uma atividade extrativista no meio da floresta, nas proximidades dos rios
Tocantins e Itacaiúnas, o capital se introduzia de modo grosseiro nesta região
primitiva onde havia os castanhais do povo no qual se podia fazer as coletas em
terras de domínio público, onde ainda não havia agricultura e muito menos a
pecuária, era uma criança que já conseguia dar seus primeiros passos. Passada a
época do esplendor da borracha que afetou durante pouco tempo a região, a
economia de Marabá se apoiou fortemente no extrativismo da castanha, que no
começo a extração era livre e as terras não eram propriedades particulares,
coisa que começou a acontecer por volta de 1920, de diversas formas. Nesta
altura a castanha alcançou preços elevados no mercado internacional (Estados
Unidos e Inglaterra), que veio viabilizar o controle da terra.
O
desenvolvimento histórico de Marabá tem como ponto de partida a formação do
primeiro núcleo populacional de que se tem notícias, fora das aldeias
indígenas: a Colônia Agrícola do Itacaiúnas surgida por meio da chegada
semi-oficial de Carlos Gomes Leitão em 1895. Vamos entrar um pouco no período
histórico entre 1895 a 1913, uma vez que no fim desta época já se tem
estabilizado um tipo determinado de relação dos homens com a natureza, de
relação dos homens entre si, de organização da produção com o tipo de mercadora
que se produz, o destino e a apropriação do que é produzido e toda uma teia de
relações que identifica uma forma particular de dominação política.
A
economia brasileira dessa época fortemente determinada pela produção de
matérias-primas e gêneros tropicais destinados à exportação, principalmente o
café do centro-sul, o látex da Amazônia, o cacau e o açúcar do Nordeste,
atravessava, quando da criação do Burgo de Itacaiúnas, o período de apogeu da
produção da borracha que tinha alcançado preços extremos no mercado
internacional.
Carlos
Gomes Leitão chega ao Itacaiúnas em 1894. Chefe político derrotado no seu
feudo, Boa Vista do Tocantins, atual Tocantinópolis que era do Estado do Goiás,
o coronel Leitão vem acompanhado por um grupo de partidários composto de
vaqueiros, lavradores e comerciantes. Apesar de seu grupo ser o primeiro a aí
se fixar, não encontrou uma terra virgem ainda não palmilhada pelo colonizador.
Essa área habitada por índios Gaviões, já havia sido visitada por religiosos,
comerciantes, garimpeiros, bandeirantes e exploradores profissionais.
Apesar
dessas várias incursões, a região próxima a Marabá não tinha sido
economicamente explorada pelos colonizadores e seus descendentes. A subida do
rio Tocantins a partir de Belém era dificultada, naquela parte, pelos
sucessivos trechos encachoeirados. Ao longo desse rio, até a criação do Burgo,
haviam sido criados alguns núcleos populacionais, dos quais os mais importantes
era Cametá (fundado em 1635), Baião (1694), Mocajuba (1853) e Alcobaça (atual
Tucuruí). Esse último, segundo Júlio Paternostro,
- "originou-se de um posto militar instituído em 1792 pelo governador do Pará, Teles de Menezes. A finalidade era domesticar os índios, aprisionar escravos fugitivos, contrabandistas de ouro que desciam das minas goianas e matogrosseses, pela via natural de comunicação entre o Centro e o Norte - rio Tocantins". (Paternostro, 1945, p. 87).
Além
desses núcleos e já na confluência com o rio Araguaia aparecia São João do
Araguaia, uma antiga colônia militar fundada em 1850 pelo governo provincial do
Pará com a finalidade de impedir os extravios de ouro e a fuga dos escravos de
Cametá para Goiás, bem como assegurar a tranquilidade de seu trânsito agressor
no meio das terras dos índios Timbiras, Carajás e Apinajés.
A
instalação do Burgo do Itacaiúnas coincide com um momento em que o Brasil passa
por grandes mudanças no que se refere a organização do trabalho, após um
período de desagregação progressiva do sistema escravista, proclama-se sua
abolição oficial em 1888. Com a República (1889) o país passa, ao nível
político-administrativo, de uma estrutura imperial centralizadora, para uma
estrutura federativa n qual as antigas províncias elevadas à condição de
Estados-membros ganham ampla autonomia em virtude da primeira Constituição
Republicana de 24/02/1891. Esta Constituição permite aos Estados-membros
contrair empréstimos externos, organizar forças militares e principalmente, no
que concerne ao nosso estudo, dispor das terras devolutas de seu território,
criando o seu próprio serviço de terras e colonização.
Os
anos que se seguiram imediatamente à Proclamação da República foram
profundamente marcados pelas rivalidades entre partidários do Marechal Deodoro
da Fonseca e do Marechal Floriano Peixoto. O Estado do Pará não podia ficar
alheio a dinâmica nacional. Seu primeiro governador constitucional, Lauro
Sodré, se opõe a Deodoro da Fonseca no episódio da dissolução do Congresso em
1891. Superada a crise e já no governo de Floriano Peixoto, Lauro Sodré é
mantido no governo do Estado do Pará, num momento em que se dá a substituição
de todos os governadores de Estados (Quintiliano, 1963).
VOYAGE AU TOCANTINS ~ ARAGUAYA. HENRI CONDREAU p. 67 |
A
criação do Burgo do Itacaiúnas está diretamente relacionada com essas lutas
partidárias nacionais e com os conflitos locais de caráter político e religioso
ocorridos entre essas facções partidárias em Boa Vista do Tocantins, em 1892.
Esses conflitos locais envolviam não apenas problemas derivados de fanatismo
religioso, mas especialmente disputa de poder entre os coronéis Francisco
Maciel Perna (chefe político e intendente local) e Carlos Gomes Leitão
(deputado Estadual Florianista e chefe emergente em luta para exercer o
controle local). Os dois políticos se colocavam em posições opostas diante dos
principais grupos rivais do Estado de Goiás, chefiados respectivamente por
Leopoldo Bulhões (facção a qual Leitão pertencia) e pelo Cônego Xavier. Como se
observa, nos conflitos a nível local, as partes em desacordo procuram
ajustar-se às lutas nacionais filiando-se às correntes opostas sem que isso
signifique necessariamente identificação ideológica. Talves esse tenha sido o
caso do "florianismo" de Carlos Gomes Leitão.
Com
o desfecho do conflito de Boa Vista ou Guerra da Boa Vista, como ficou
conhecida, francamente desfavorável para os seus interesses, os florianistas
abandonaram Boa Vista em grupos que avançaram para o Leste e para o Norte. Para
o Norte seguiu um contingente de criadores e de comerciantes liderados pelo
Coronel Carlos Gomes Leitão que desceram o Tocantins em direção ao Itacaiúnas
onde estabeleceram uma colônia agrícola, o Burgo do Itacaiúnas.
O
que foi o Burgo enquanto primeiro núcleo de onde teria derivado Marabá, pode
ser inferido do Relatório de Ignácio de Moura, incumbido que foi por Lauro
Sodré de fazer uma inspeção a essa colônia em 1896. Esse relatório tem uma
riqueza de detalhes no sentido de auxiliar na reconstituição dos grupos que
naquela altura se estruturavam na área. Ao longo da viagem entre Belém e São
João do Araguaia, Moura vai mencionando em cada localidade onde passa, as
chefias locais, as condições de vida e as atividades econômicas da população.
Reporta-se aos coletores de castanha, aos banqueiros do Tocantins, aos índios,
ao comerciantes da borracha, aos vaqueiros, as desbravadores dos campos... aos
coronéis de Mocajuba, Baião, Alcobaça e Arumatheua. Quem eram os moradores do
Burgo? Eram vaqueiros, agricultores, comerciantes e antigos proprietários de
terras de Goiás e do Maranhão que segundo o viajante, "vieram para ali
espontaneamente só lamentando os inconvenientes da pobreza que é extrema a
eles por terem sido espoliados de seus bens com a Guerra Civil de Boa Vista.
No
início do estabelecimento do Burgo tinha surgido problemas relacionados com a
insalubridade do lugar, o que levou a um deslocamento do povoado para ponto
mais propício ao desenvolvimento da colônia. Nesse momento aconteceu uma certa
dispersão dos colonos que se espalharam beira-rio ou para povoados vizinhos,
- "... era lugar de uma topografia bem escolhida, edificaram-se ali algumas barracas, fez-se até uma limitada plantação, porém, febres intermitentes assolaram de tal forma os imigrantes, que lhes ocasionaram verdadeira debandada, retirando-se uns para a Colônia Militar de São João do Araguaia, outros para diversos pontos do rio, ficando, porém, a maior parte fiel aos compromissos tomados com o concessionário, que com eles se retirou para formar um novo estabelecimento, em agosto de 1895 a 18 quilômetros do rio abaixo, na mesma margem esquerda, lugar em que então se achava o Burgo".
Nossa
inserção de dados históricos tomou por base a obra "A oligarquia do
Tocantins e o domínio dos castanhais, de Marília Emmi (1987) p. 03-23.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.