Pintura a Óleo de Domingos Nunes |
Até 1913 Marabá fazia parte
integrante do município de São João do Araguaia, nesse ano, porém, atendendo ao
apelo do povo marabaense, representado por grandes proprietários e influentes
políticos, o Governo do Estado erigiu Marabá município autônomo, por Lei 1.271
de 27 de Fevereiro de 1913. Conquistada sua autonomia, dirigido por homens
trabalhadores e de boa vontade, crescidas as ruas rendas com o comércio então
vultuoso do caucho, Marabá entrou numa fase de auspicioso progresso, atraindo
para o seu território uma população ordeira e batalhadora, em apreciável
maioria vinda dos altos sertões de Goiás e Maranhão, além de uma numerosa
colonia síria.
A queda do
preço do caucho causou certa retração expansionista, desfalcadas as rendas
públicas do seu principal produto. Mas, ao chegar o ano de 1920, com a
valorização da castanha no mercado internacional, reencetou o seu surto
progressista, sendo um dos mais promissores em todo o Estado, como se poderá
ver do quadro das rendas arrecadas pelo município:
1913
37:647$396
1914
45:000$000
1915
35:879$000
1916
46:197$000
1917
47:340$000
1918
46:950$396
1919
42:463$000
1920
41:887$377
1921
70:298$719
1922
80:633$519
1923
185:206$837
1924
208:638$322
1925
405:000$000
1926
208:834$049
A
receita do ano de 1926 estava orçada em 301:100$000, computada até o dia 30 de
junho a quantia de 288:890$264. Mas, em 1922, pelo Decreto de 29 de Dezembro, o
município de Marabá anexou o de São João do Araguaia, cujo território lhe ficou
incorporado, acrescendo a sua população de cerca de 5 mil habitantes e de ricos
e extensos castanhais.
Discorrendo
em 1924 sobre a vida econômica do município, assim se referiu, de público, o
secretário municipal Arthur Guerra Guimarães: "A cifra dos gêneros
exportados pelo município o ano passado (1923) atingiu a 3.160 contos, valor
oficial da exportação de:
61.700
hectolitros de castanha;
43.634
quilos de caucho
E
mais, outros gêneros de menor importância cuja lista acrescentamos:
326 couros de veado
517 couros de boi espichados
364 litros de copaíba
1.000
quilos de algodão
Para
termos o verdadeiro valor dessa exportação, isto é, o valor comercial desses
gêneros, havemos de adicionar mais a importância de 474 contos de impostos de
exportação cobrados pelo Estado sobre os gêneros provenientes do município,
porque o comprador estrangeiro, na oferta do preço, desconta a importância dos
impostos e despesas a pagar. De modo que, quem paga os impostos de exportação
sejam do município ou do estado, é o produtor. Assim temos para valor comercial
de exportação do município para o ano de 1923 3.634 contos.
Os
negociantes tiveram lucros, os trabalhadores tiveram saldos, as compras em
Belém foram pagas e não tivemos uma só casa comercial que não saldasse
compromissos. Os salários elevaram-se consideravelmente. Os gêneros de produção
regional estão valorizados. A vida, por isso mesmo, torna-se mais cara, mas em
compensação, as facilidades de aquisição dos meios de viver foram ampliados.
A
Intendência arrecadou, ou seja, mais da receita orçada e, 185:206$837
apesar
das despesas atingirem
146:311$671
o
exercício fechou com saldo de 50:428$103
maior,
portanto, do que a renda de qualquer dos exercícios de 1923 a 1920.
O
balanço da Intendência do ano financeiro de 1923, tendo todas as despesas
pagas, encerrou-se a 31 de dezembro com um saldo de dinheiro em caixa de 41:947$850
O município evidentemente já tem uma produção bem regular, o seu
comércio consideravelmente desenvolvidos, aumentados os seus gêneros de
exportação, com o babaçu e o caucho em maior escala, e alcançando a castanha o
vertiginoso preço de 110$000 o hectolitro na praça de Belém.
Cerca
de 70 motores, alguns com capacidade superior a 300 barricas de castanha,
facilitavam o transporte de gêneros a exportar e abrindo grandes horizontes nas
transações comerciais com os sertões goiano e maranhense pela rapidez e
facilidade das comunicações.
Em
1926 o município sofreu a grande calamidade pública que devastou toda a
feracíssima e imensa zona tocantina com a enchente formidável dos rios
Tocantins e Araguaia. A contribuir para esse cataclisma, a desvalorização
inesperada da castanha, cujo hectolitro chegou a ser cotado na praça de Belém
aos preços de 14$000 e 16$000, apesar da safra ter sido vultuosa, o município
teve as suas rendas diminuídas, além de sofrer a destruição completa da sua
florescente sede, submersa por mais de um mês pelas águas da enchente.
Considerando
o ano de 1926, algumas culturas incipientes havia por aqui. Nas terras nos arredores
de Marabá, nas terras dos sítios Quindangues e São José havia uma pequena
plantação de café que produzia cerca de 10 arrobas por ano, como a de cana de
açúcar, nos sítios Burgo e Floresta, onde se fabricou até 1922, açúcar,
rapadura e cachaça para o consumo da cidade.
Afora
essas culturas incipientes ou abandonadas, há a pequena lavoura de mandioca, do
milho, do arroz, do feijão, do tabaco que não chega sequer para o consumo da
cidade, obrigada a importar dos sertões goiano e maranhense todos esses gêneros
que o município bem poderia produzir em grande escala.
Pelo
verão, nas praias que os naturais dão pitorescamente o nome de vazantes, os
pequenos lavradores plantam gêneros de rápida colheita, como o melão, o feijão,
a melancia e algumas vezes o fumo e o milho.
Quindangues,
São José, Burgo, São Francisco, São Pedro, são fazendas onde se criam algumas
centenas de rezes em pastos artificiais, por demais exíguos para alimentarem no
verão o gado reunido. Nas ilhas de Jacaré, João Vaz e mais alguns outros,
abaixo da cidade, fazem-se soltas de gado que desce do sertão em grandes
boiadas nos meses do verão, para abastecimento da cidade e dos lugarejos do
Tocantins até Alcobaça.
Alguns
proprietários marabaenses, como os Senhores Coronel João Anastácio de Queiroz,
Uady Moussalem e Martinho Motta, estão ensaiando o cruzamento do gado do
sertão, geralmente pequeno e impróprio para o corte, com o zebú, para o que
importaram diversos reprodutores puro sangue. Mesmo com o aumento dos pastos
artificiais, a produção do município será, ainda, por muito tempo, insuficiente
para o seu consumo, que só na cidade oscila entre 800 a 1.000 rezes por ano.
O
comércio de Marabá é ativo e intenso, sobretudo nos meses da safra da castanha.
Mas de 40 casas comerciais, algumas fazendo movimento superior a 500 contos por
ano, impulsionam o mercado marabaense. Nas épocas de safra valorizada e grandes
negócios, não são raros os "patrões" que exportam para a praça de
Belém de 3.500 a 4.000 barricas de castanha, que convertidas em hectolitros
dão, em média, um acréscimo de 25 por cento.
Fonte: Viagem ao Tocantins, obra apócrifa escrita em 1926.
Fonte: Viagem ao Tocantins, obra apócrifa escrita em 1926.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.