sexta-feira, 12 de maio de 2017

Porto das Canoinhas e a Memória Fluvial de Marabá

Há pessoas com sensibilidade para captar aspectos da saúde de uma profissão, a ida em lugares às margens de rios provoca várias sensações, a primeira é sobre o lugar e segundo sobre as pessoas que ali trabalham. Rapidamente percebemos o quanto as coisas podem melhorar e, também, um certo comodismo, desleixo. Vou reportar a recente visita que fiz ao Porto das Canoinhas, no histórico e importante bairro do Amapá. As canoinhas com motores de popa ainda estão por lá, são várias, já foram muito mais. Restam esperançosos trabalhadores por dias melhores que se sucedem sem uma novidade. Estamos na margem esquerda do rio Itacaiúnas, local onde há várias canoinhas, ou barcos. O cenário é de paradeiro, pouca gente trabalhando, imperando o silêncio da falta de gente.


Até meados da década de 1980 ainda não havia a ponte sobre o rio Itacaiúnas, o transporte de pessoas e de objetos eram feitos por barcos e canoas. Muitos estudavam em escolas do outro lado do rio, na Marabá Pioneira e vice-versa, precisavam ser transportados, da mesma forma, era o acesso para quem desejasse seguir para a Nova Marabá, como não havia a ponte o meio utilizado era através do rio. Fazendo mentalmente um filme, construiremos imagens deste tempo passado, muitas pessoas num barquinho, alunos, professores, pais de famílias, o cachorrinho, enfim, tudo passava por ali. Os barqueiros eram os responsáveis por este trabalho intenso, incansável e com muita paciência. Podemos imaginar que tudo passava por eles, era uma atividade rentável. 

Com a ponte caiu a serventia dos barcos, do trabalho dos barqueiros, já não há tanta gente para se transportar, os carros modernos e confortáveis fazem isso com muita rapidez. O pequeno trecho pelo rio, de 600 a 800 metros, entre o bairro do Amapá e a Vila do Rato (na Marabá Pioneira), por barco é muito rápido, não passa de 5 minutos e poucos são os passageiros, na maioria são pessoas simples destes bairros próximos. Há pouco trabalho, quase tudo parado e quando surge um barquinho vem um ou dois passageiros, quase nada de rendimento.

A decadência do local é quase total. O cenário é lindo, belíssimo mas, foi esquecido, desprezado, desprestigiado, abandonado. As margens do lado de cá (do Amapá) parece que não foram limpas há anos, e olhem que a sujeira afasta pessoas e até suja o rio. Não há a preocupação de limpeza neste ponto, lugar belíssimo que enche os olhos, também não há o mínimo de urbanização. 

Museu do Pescador - Memória Fluvial de Marabá

Ali poderia haver um pequeno cais, uma Orla se quisessem. Já disse que fica próxima da Marabá Pioneira, vê-se à direita a ponte do Itacaiúnas, à esquerda o Cabelo Seco, de frente a Vila do Rato. É possível o passeio de barco até a ponte, até o encontro dos rios, passear e encontrar um boto. Mas, neste lugar está faltando muita coisa além das mencionadas acima: o Museu do Pescador, onde se poderia apresentar a história da navegação por este rio, dos barcos antigos, das lendas (inclusive a da Boiúna) e das histórias de pescadores, das espécies de peixes. Poderia ser um ponto para se chegar na praia do Tucunaré, viajar de barco (barcos seguros) até o município de Itupiranga, se fosse uma lancha turística, imagina que sensação. 

O Museu do Pescador seria um espaço para a promoção de encontros, exposições, colóquios, apresentação de danças folclóricas, lançamento de livros, artesanatos entre outras atividades, sempre pensando no enriquecimento econômico e cultural, envolver pessoas do bairro para dar atendimento aos turistas.
Existe uma relação entre barqueiros e pescadores, os mesmos exercem a atividade da pesca e do transporte de passageiros. Enfim, o Museu seria o lugar para preservar a memória dos pescadores e, para tal finalidade pode-se buscar parcerias, emendas parlamentares, recursos municipais e estaduais para tal obra.  

Não está sendo fácil sem passageiros

Agora resta os barqueiros e ninguém hoje mais fala do que foi o Amapá, o Porto das Canoinhas e do quanto se deixou de ganhar. No bairro há um hotel chique, desses que impressionam e de lá poderia sair grupos e grupos de turistas para passear, pescar, conhecer o rio, as praias de Marabá, viajar em lanchas. Melhorar a saúde financeira de trabalhadores é uma questão importantíssima. Melhorar a qualidade de vida de uma comunidade é essencial para que estes vivam dignamente. Tomara que este texto seja mais um a alcançar os seus objetivos, alcançar as pessoas que podem tomar as providências. Não está sendo nada fácil para os barqueiros do Porto das Canoinhas, parte fundamental da nossa história, da nossa cultura e poderia fazer parte de uma diretriz de turismo. 

Texto e imagens da canoinhas: Arnilson de Assis

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