Sepultura de Melhem Abrão Behambouny - Foto: Arnilson Assis |
Esse novo vilarejo progrediu
rapidamente, pois a população aumentava com pessoas vindas diariamente das
cidades vizinhas, e dos Estados do Maranhão e Goiás, atraídas pela descoberta
do caucho. As caravanas de “caucheiros” passaram a se embrenhar nas matas para
explorar o látex, produto de considerável valor monetário na época.
A maioria desses
libaneses que primeiramente aportou no Maranhão, veio para Marabá, atraída pelo
látex, acompanhando a marcha de migração juntamente com os maranhenses e
goianos. O número de libaneses em Marabá aumentou vertiginosamente, ficando
registrado na história da cidade, onde participaram ativamente ao lado dos
nativos e da população existente na construção de Marabá, que desde a sua
fundação sonha em ser o maior município do Estado do Pará.
Com o crescimento da
população e o avanço de Marabá no período de 1895 a 1913, as relações entre o
homem e a natureza, e o homem com ele próprio se modificaram. Os libaneses
estavam no meio dessa luta, participando incansavelmente na desbravação das
florestas, na luta contra os animais ferozes e as flechas dos valentes índios
e, ainda, esforçando-se em arranjar transportes tanto para trazer alimentos e
roupas que necessitavam, como também para vender seus produtos para as cidades
vizinhas.
A história de Marabá escrita
em 1984, com o apoio da então prefeitura municipal, registra na página 94, o
seguinte:
Em 1911 o libanês Antônio Fares, foi com 10 homens contratados para extrair borracha nas matas do igarapé Fleixeira, neste município. Lá foram atacados pelos índios gaviões e no combate Antônio Fares foi flechado no estômago. Transportaram o ferido para Marabá, onde o dr. Bandeira não conseguiu extrair a flecha, vindo ferido a falecer em consequência do ferimento, sendo sepultado no cemitério desta cidade...
... Em 1908 seguiu de Marabá para o rio do Coco, com 10 homens contratados para extrair borracha, o libanês Jorge Braz, que levou mercadorias, ferramentas, armas e munição. Ele foi assassinado por um seu contratado, Casemiro, que lhe roubou todo o dinheiro que pôde, bem como um anel de brilhante e outras jóias...”
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Jazigo de Uadi Moussallem - Foto: Arnilson Assis |
Libaneses na primeira administração pública
A Família Mutran e a Oligarquia da Castanha
Os primeiros imigrantes da
família Mutran chegaram a Marabá nos meados da década de 1920, vindos do
Maranhão, primeiro lugar onde aportaram quando chegaram do Líbano. Atraídos
pela fama da borracha e da castanha. Em Marabá, naquela época, a exploração das
riquezas naturais dependia e muito da relação desta com o homem, dependia da
força física e da possibilidade de aviamento (alimentação e material para se
manter nas matas por longos períodos), além disso, dependia também da
influência política do “patrão” em legalizar os castanhais. Desta forma,
começou a luta entre os grupos de exploradores para apropriar-se da maior área
de castanhais e registrar suas terras.
Segundo nossas pesquisas, os
Mutran foram os que conquistaram a maior parte das áreas de castanhais em
Marabá, pois eram a família que mais obtinha poder político, econômico e
social. Por todos estes fatos, muitos pesquisadores, ao analisarem a exploração
da castanha em Marabá, em suas teses relatam histórias contra a família Mutran.
E, por muitas vezes, caíram em erros históricos, acarretando a desconfiança da
veracidade de suas obras, a exemplo do livro “A oligarquia do Tocantins e o
Domínio dos Castanhais”, segunda edição, da autora Marília Emmi, que na página
39 relata o seguinte:
“... segundo o informante, nesse conflito tornou-se evidente a solidariedade comercial dos libaneses. O conflito teria tomado proporções tais, envolvendo, inclusive, gestões do Consulado do Líbano e no Governo do Para, que mandou um representante para mediar o conflito...” Esses autores fazem parecer que a família Mutran era a única a explorar os colonos, quando a briga maior não era essa e, sim, a luta por áreas de castanhais entre os Mutran e os outros grupos exploradores que, no lugar deles, fariam a mesma coisa, ou até pior. Se existiu algum culpado, este foi o sistema oligárquico vigente no Brasil.
Muitas histórias e fatos
começaram a aparecer sobre a família Mutran, porém foram cessados logo que
Nagib Mutran tomou posse da Prefeitura de Marabá em 1958. Em quatro anos de
governo fez de Marabá o primeiro município do Estado do Pará a ter ruas
asfaltadas, energia elétrica e investimentos na educação e saúde, isto é, uma
cidade exemplar, tanto que até hoje comenta-se que ele foi um dos melhores
prefeitos que Marabá já teve. Em 1963, foi eleito deputado
estadual, quando, por seus próprios interesses deixou a UDN e filiou-se ao PSD.
Hoje a marcha do progresso
mundial cresce juntamente com a mentalidade do egoísmo e a necessidade humana.
A exploração das riquezas naturais deixou de ser feita braçalmente pelos homens
e passou para os donos dos maquinários de avançadas tecnologias. A família Mutran,
juntamente com os outros grupos monopolizadores, exploradores das riquezas de
Marabá, sentiram-se impotentes diante das grandes empresas que se instalaram na
região, como a Companhia Vale do Rio Doce. Assim, desistiram da concorrência,
deixando espaço a esse grupos empreendedores.
Jazigo de Kalil Mutran (1875-1952) - Foto: Arnilson de Assis |
Fonte: Livro Raízes Libanesas no Pará, de autoria de Assaad Zaidan, 2001.
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