Igreja Matriz, construída em 1942. Crédito: Arnilson de Assis |
Os municípios de São João do Araguaia, Marabá e Itupiranga
tem uma história em comum. Enriquecidos por grandes rios, por estes passavam
muito de mercadorias entre as capitanias de Goiás e Pará, esses veios eram as
estradas daquelas épocas, embora, devemos considerar os perigos das viagens por
rios, por conta de pedras, travessões e cachoeiras, em barcos movidos a remos,
havia o perigo de enfrentamento com os índios e, ainda de invasores que
buscavam por estas terras o ouro e o diamante. Daí, São João do Araguaia
recebeu uma fortificação e Marabá receberia um presídio, conforme decisão de D.
Pedro I, para dar segurança nas travessias e, o empréstimo de força humana nos
momentos em que as embarcações precisavam ser puxadas.
Mas, vamos começar nossa história por volta de 1892, quando
ocorreu uma revolta política e religiosa. Tal acontecimento fez os grupos
fugirem, um numa direção e outro em direção oposta. O grupo do Coronel Carlos
Gomes Leitão, fugido de Boa Vista do Tocantins, atual Tocantinópolis desceu o
rio Tocantins, chegou a São João do Araguaia e depois veio para cá, fixando-se
no Burgo Agrícola do Itacaiúnas.
O agricultor Lúcio Antônio dos Santos, vinha ele de Riachão,
Estado do Maranhão que vivia de semear a terra e a quebra de babaçu. Porém, foi
a baixa do preço deste produto um dos motivos para buscar sobrevivência,
juntamente com a sua família em outras paragens. Segundo João Brasil Monteiro
(História de Itupiranga e sua gente), ele partiu em cima de um animal até
Imperatriz. A viagem continuou em uma barcaça movida a remos e chegavam a Boa Vista,
onde encontrou muitos desentendimentos políticos. Juntou-se ao grupão político de Carlos Leitão
que já se preparava para a fuga debaixo de fogo cruzado.
Eles saíram de Boa Vista e desceram o curso do rio em barcos
de remos curtos e longos em 13 de julho de 1892, sempre a margem esquerda do
rio Tocantins para se protegeram das flechas dos índios Grajaés e Gaviões que
ali habitavam.
Dias depois chegaram a São João das Duas Barras (área da
Velha Marabá) e encontraram as águas escuras do rio Itacaiúnas a misturar-se ao
Tocantins. Mas, ali não era o lugar escolhido, depois de uma viagem complicada,
um percurso realmente muito difícil, enfrentando índios bravos e ferozes em
terras estranhas, mas, abençoados pela natureza que lhes proviam a castanha,
frutas, animais silvestres (veados, caititus e outros), chegaram no Burgo onde construíram
barracões feitos de madeiras roliças e cobertas com folhas de palmeiras e
iniciaram a lavoura de subsistência familiar e semeadas as mudas de mangas,
laranja, limão e banana trazidas de suas roças deixadas em Boa Vista. Ali
avistavam a passagem frequente de aventureiros que seguiam rumo ou ficavam.
Mas, em 1894 tiveram que deixar o Burgo Agrícola do
Itacaiúnas fugindo agora da febre terçã maligna (malária) que causou muitas
mortes de crianças e adultos, fixaram-se mais abaixo umas cinco léguas.
Agora, com base em Leônidas Gonçalves Duarte (Viagem ao
Tocantins), vamos continuar nossa história. Lúcio ficou encantado com a
povoação do Lago Vermelho, assentado sobre extensa esplanada aprazível,
dominando atraente panorama à margem tocantina, destacou-se como um ponto
distanciado da trajetória dos acontecimentos boa-vistenses. E ali se estabeleceu fazendo extensa
derrubada onde pouco tempo depois vicejava mandiocais e outras culturas. Muitos
boa-vistenses escolheram o Lago Vermelho, isto em 1893 e o local foi se
povoando aos poucos. Em 1896 já havia 60 habitantes.
Por que Lago Vermelho?
O rio tem muita importância para o município de Itupiranga. Crédito: Arnilson de Assis |
Seguindo a obra anterior, o nome Lago Vermelho é fruto da
imaginação e não encerra fato histórico, nem alusão fugaz à lenda de onde
tirasse a origem. Há, é certo, em
derredor da grande planura, lagos de águas turvas e claras. Dizem que de um
destes, foi que deram o nome à povoação por lhes parecer ter a água amarelada.
Hoje, Lago Vermelho mantém forte comércio com a cidade de que está distante
quatro horas a motor. Vastíssimos castanhais se estendem por trás do povoado,
explorados por moradores, dia a dia crescendo. Em grande apoio, durante 4
meses, em 1926, Lago Vermelho asilou a maioria da população marabaense,
acossada pelo flagelo da inundação de destruiu a cidade.
Na localidade de Ponta de Pedras fixou-se a família
Cafurenga, afeita a saga da borracho e escolheu a foz do Igarapé Vermelho para
viver, local de passagem dos compradores de caucho (é o nome da árvore e não do
produto que é a borracha). Em razão da acentuada movimentação de embarcações,
botes e batelões acionados a remos curtos e longos, provenientes do alto
Tocantins e Araguaia, alí era o lugar privilegiado para negociar produtos,
inclusive bonitos e fornidos batelões dos coronéis do Burgo do Itacaiúnas eram
vendidos. Lúcio Antônio dos Santos, segundo João Brasil, o lugar fora gravado
com letras cursivas com o nome Porto da Borracha. Mas, essa denominação foi
desaparecendo da boca dos moradores e de embarcadiços, a medida que outro se
sobrepunha.
Sem justificativas ficou o nome de Lago Vermelho, embora o
primeiro nome emitia o real espírito da História de Itupiranga. Esse novo nome
nada há que justifique a sua legitimidade. Habitantes conservadores, até a
metade da década do século XX, quando terminava o primeiro ciclo da borracha na
região, utilizavam o nome primitivo: Porto da Borracha, apenas o local de
embarque e desembarque de produtos ali extraídos.
Infelizmente não consegui descobrir o momento histórico da passagem para o nome Itupiranga, termo oriundo da língua tupi, que significa "cachoeira vermelha", através da junção dos termos ytu (cachoeira) e pyrang (vermelho), segundo o wikipédia.
Um milagre fez nascer Marabá e Itupiranga
Itupiranga é uma cidade rica de belezas naturais, grande potencial turístico. Crédito: Arnilson de Assis |
Até os dias atuais os municípios de Marabá e Itupiranga,
considerados ribeirinhos, fazem grande uso dos rios. A chegada do grupo de
Carlos Gomes Leitão na região foi um milagre, antes eles pensavam em criar
gado, campos e pastos eram procurados insistentemente pelos desbravadores. Não
trouxeram gado na fuga, mas, era esse o pensamento. Mais aconteceu um milagre,
numa destas investidas de prospecção na mata os irmãos Antônio e Hermínio
Pimentel dispararam numa árvore, dela escoou um leite branco e desconhecido.
Muitos dias depois, voltaram pelo mesmo caminho e viram aquela substância
coagulada, levando uma amostra para seu acampamento, isto foi em 1896.
A amostra foi enviada por Carlos Leitão para ser analisada
em Belém. O resultado teve grande repercussão na Capital, era uma borracha de grande
qualidade. Pronto, foi o primeiro milagre e logo a região passou a ser grande
produtora, fixando as pessoas e iniciando-se o comércio na região que vendia e
comprava produtos que vinham do Maranhão e do Goiás.
Outro milagre foi a grande aceitação da castanha-do-Pará no
mercado europeu e, a região estavam tomada de castanhais por todos os lados.
Mais uma razão para que muitos viessem e se fixassem em Marabá e Itupiranga e
outras localidades. Assim, tivemos dois excelentes produtos com bons preços no
mercado mundial, um gerava emprego por seis meses de seca, a borracha e outro, nos
outros meses do ano em épocas de chuvas, a castanha.
Os municípios são frutos de vários milagres. Agora, imaginem vocês que aqui iniciou-se um desenvolvimento que não havia, não se pensava e surgiu duas importantes culturas que fez nascer os municípios, de imediato chamou a atenção geral. Termina aqui uma breve história sobre a origem de Itupiranga, Terra abençoada com muita beleza e gente muito acolhedora.
Texto de Francisco Arnilson de Assis, tendo como base as obras: "Viagem ao Tocantins" (apócrifa, descobri que foi escrita pelo Professor Leônidas Gonçalves Duarte, Dr. Inácio de Souza Moita, Nélson Parijós e Antônio e Augusto Morbach) e na obra "História de Itupiranga e sua gente" de autoria de João Brasil Monteiro.
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