quarta-feira, 19 de julho de 2017

Breve história sobre a origem de Itupiranga

Igreja Matriz, construída em 1942. Crédito: Arnilson de Assis
Os municípios de São João do Araguaia, Marabá e Itupiranga tem uma história em comum. Enriquecidos por grandes rios, por estes passavam muito de mercadorias entre as capitanias de Goiás e Pará, esses veios eram as estradas daquelas épocas, embora, devemos considerar os perigos das viagens por rios, por conta de pedras, travessões e cachoeiras, em barcos movidos a remos, havia o perigo de enfrentamento com os índios e, ainda de invasores que buscavam por estas terras o ouro e o diamante. Daí, São João do Araguaia recebeu uma fortificação e Marabá receberia um presídio, conforme decisão de D. Pedro I, para dar segurança nas travessias e, o empréstimo de força humana nos momentos em que as embarcações precisavam ser puxadas.

Mas, vamos começar nossa história por volta de 1892, quando ocorreu uma revolta política e religiosa. Tal acontecimento fez os grupos fugirem, um numa direção e outro em direção oposta. O grupo do Coronel Carlos Gomes Leitão, fugido de Boa Vista do Tocantins, atual Tocantinópolis desceu o rio Tocantins, chegou a São João do Araguaia e depois veio para cá, fixando-se no Burgo Agrícola do Itacaiúnas.

O agricultor Lúcio Antônio dos Santos, vinha ele de Riachão, Estado do Maranhão que vivia de semear a terra e a quebra de babaçu. Porém, foi a baixa do preço deste produto um dos motivos para buscar sobrevivência, juntamente com a sua família em outras paragens. Segundo João Brasil Monteiro (História de Itupiranga e sua gente), ele partiu em cima de um animal até Imperatriz. A viagem continuou em uma barcaça movida a remos e chegavam a Boa Vista, onde encontrou muitos desentendimentos políticos.  Juntou-se ao grupão político de Carlos Leitão que já se preparava para a fuga debaixo de fogo cruzado.

Eles saíram de Boa Vista e desceram o curso do rio em barcos de remos curtos e longos em 13 de julho de 1892, sempre a margem esquerda do rio Tocantins para se protegeram das flechas dos índios Grajaés e Gaviões que ali habitavam.

Dias depois chegaram a São João das Duas Barras (área da Velha Marabá) e encontraram as águas escuras do rio Itacaiúnas a misturar-se ao Tocantins. Mas, ali não era o lugar escolhido, depois de uma viagem complicada, um percurso realmente muito difícil, enfrentando índios bravos e ferozes em terras estranhas, mas, abençoados pela natureza que lhes proviam a castanha, frutas, animais silvestres (veados, caititus e outros), chegaram no Burgo onde construíram barracões feitos de madeiras roliças e cobertas com folhas de palmeiras e iniciaram a lavoura de subsistência familiar e semeadas as mudas de mangas, laranja, limão e banana trazidas de suas roças deixadas em Boa Vista. Ali avistavam a passagem frequente de aventureiros que seguiam rumo ou ficavam.

Mas, em 1894 tiveram que deixar o Burgo Agrícola do Itacaiúnas fugindo agora da febre terçã maligna (malária) que causou muitas mortes de crianças e adultos, fixaram-se mais abaixo umas cinco léguas.

Agora, com base em Leônidas Gonçalves Duarte (Viagem ao Tocantins), vamos continuar nossa história. Lúcio ficou encantado com a povoação do Lago Vermelho, assentado sobre extensa esplanada aprazível, dominando atraente panorama à margem tocantina, destacou-se como um ponto distanciado da trajetória dos acontecimentos boa-vistenses.  E ali se estabeleceu fazendo extensa derrubada onde pouco tempo depois vicejava mandiocais e outras culturas. Muitos boa-vistenses escolheram o Lago Vermelho, isto em 1893 e o local foi se povoando aos poucos. Em 1896 já havia 60 habitantes.


Por que Lago Vermelho?

O rio tem muita importância para o município de Itupiranga. Crédito: Arnilson de Assis
Seguindo a obra anterior, o nome Lago Vermelho é fruto da imaginação e não encerra fato histórico, nem alusão fugaz à lenda de onde tirasse a origem.  Há, é certo, em derredor da grande planura, lagos de águas turvas e claras. Dizem que de um destes, foi que deram o nome à povoação por lhes parecer ter a água amarelada. Hoje, Lago Vermelho mantém forte comércio com a cidade de que está distante quatro horas a motor. Vastíssimos castanhais se estendem por trás do povoado, explorados por moradores, dia a dia crescendo. Em grande apoio, durante 4 meses, em 1926, Lago Vermelho asilou a maioria da população marabaense, acossada pelo flagelo da inundação de destruiu a cidade.

Na localidade de Ponta de Pedras fixou-se a família Cafurenga, afeita a saga da borracho e escolheu a foz do Igarapé Vermelho para viver, local de passagem dos compradores de caucho (é o nome da árvore e não do produto que é a borracha). Em razão da acentuada movimentação de embarcações, botes e batelões acionados a remos curtos e longos, provenientes do alto Tocantins e Araguaia, alí era o lugar privilegiado para negociar produtos, inclusive bonitos e fornidos batelões dos coronéis do Burgo do Itacaiúnas eram vendidos. Lúcio Antônio dos Santos, segundo João Brasil, o lugar fora gravado com letras cursivas com o nome Porto da Borracha. Mas, essa denominação foi desaparecendo da boca dos moradores e de embarcadiços, a medida que outro se sobrepunha.

Sem justificativas ficou o nome de Lago Vermelho, embora o primeiro nome emitia o real espírito da História de Itupiranga. Esse novo nome nada há que justifique a sua legitimidade. Habitantes conservadores, até a metade da década do século XX, quando terminava o primeiro ciclo da borracha na região, utilizavam o nome primitivo: Porto da Borracha, apenas o local de embarque e desembarque de produtos ali extraídos.

Infelizmente não consegui descobrir o momento histórico da passagem para o nome Itupiranga, termo oriundo da língua tupi, que significa "cachoeira vermelha", através da junção dos termos ytu (cachoeira) e pyrang (vermelho), segundo o wikipédia.


Um milagre fez nascer Marabá e Itupiranga

Itupiranga é uma cidade rica de belezas naturais, grande potencial turístico. Crédito: Arnilson de Assis
Até os dias atuais os municípios de Marabá e Itupiranga, considerados ribeirinhos, fazem grande uso dos rios. A chegada do grupo de Carlos Gomes Leitão na região foi um milagre, antes eles pensavam em criar gado, campos e pastos eram procurados insistentemente pelos desbravadores. Não trouxeram gado na fuga, mas, era esse o pensamento. Mais aconteceu um milagre, numa destas investidas de prospecção na mata os irmãos Antônio e Hermínio Pimentel dispararam numa árvore, dela escoou um leite branco e desconhecido. Muitos dias depois, voltaram pelo mesmo caminho e viram aquela substância coagulada, levando uma amostra para seu acampamento, isto foi em 1896.

A amostra foi enviada por Carlos Leitão para ser analisada em Belém. O resultado teve grande repercussão na Capital, era uma borracha de grande qualidade. Pronto, foi o primeiro milagre e logo a região passou a ser grande produtora, fixando as pessoas e iniciando-se o comércio na região que vendia e comprava produtos que vinham do Maranhão e do Goiás.

Outro milagre foi a grande aceitação da castanha-do-Pará no mercado europeu e, a região estavam tomada de castanhais por todos os lados. Mais uma razão para que muitos viessem e se fixassem em Marabá e Itupiranga e outras localidades. Assim, tivemos dois excelentes produtos com bons preços no mercado mundial, um gerava emprego por seis meses de seca, a borracha e outro, nos outros meses do ano em épocas de chuvas, a castanha. 

Os municípios são frutos de vários milagres. Agora, imaginem vocês que aqui iniciou-se um desenvolvimento que não havia, não se pensava e surgiu duas importantes culturas que fez nascer os municípios, de imediato chamou a atenção geral. Termina aqui uma breve história sobre a origem de Itupiranga, Terra abençoada com muita beleza e gente muito acolhedora.


Texto de Francisco Arnilson de Assis, tendo como base as obras: "Viagem ao Tocantins" (apócrifa, descobri que foi escrita pelo Professor Leônidas Gonçalves Duarte, Dr. Inácio de Souza Moita, Nélson Parijós e Antônio e Augusto Morbach) e na obra "História de Itupiranga e sua gente" de autoria de João Brasil Monteiro. 

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