Imagem extraída do site: www.lugaresesquecidos.com.br |
Nos dias atuais não temos uma ferrovia paraense, totalmente
em nosso território, já tivemos duas, foram extintas e pouco sobrou destes
grandiosos empreendimentos voltados ao desenvolvimento de um estado, destas
histórias de valentia, coragem e desbravamentos. Assim como ocorreu nas
ferrovias americanas nos tempos do Velho Oeste, no século XIX, principalmente
entre os anos de 1860 e 1890, durante a expansão da fronteira dos Estados
Unidos para a costa do Oceano Pacífico, quando havia as lutas de enfrentamento entre
índios, glamourizadas por Hollywood, mas, os maiores desbravamentos eram de
ordem geológicas, requerendo enormes façanhas da engenharia na passagem por
planícies e altas montanhas, sendo consideradas o maior feito tecnológico
norte-americano do século XIX,
conectando a parte oriental e ocidental.
Estrada de Ferro Bragança, nossa primeira ferrovia
Estação da Vila de São João de Pinheiro, atual Icoaraci, Belém. Imagem: blog da franssinete Florezano |
A nossa primeira ferrovia, a Estrada de Ferro Bragança
ligava Belém (São Braz) ao município de Bragança, numa extensão de 222
quilômetros, passando por Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Izabel,
Castanhal, Igarapé-Açu, Peixe-Boi, Tracuateua e Bragança, e visava alcançar São
Luís do Maranhão. Começou a ser construída em 1883 e alcançou com suas linhas o
município de Bragança em 1908. Em péssimas condições de operação fechou de vez
em 1960.
Esse patrimônio histórico deixou suas marcas e é hoje
aproveitada, em parte, para fins de turismo, visto que sua memória foi
preservada, ficando para a posteridade estações, paradas e outras construções.
Ao passar no centro de Belém, podemos ver em muitos locais trilhos fincados no
chão. Da mesma forma, Bragança conservou e guardou com carinhos seu passado e
hoje incentiva o turismo, um volta no tempo através da Rota Turística
Belém-Bragança, já apresentando retorno financeiro.
Nossa Estrada de Ferro Tocantins
Trabalhadores da Estrada de Ferro Tocantins. Imagem: Tucuruí Forever |
A Estrada de Ferro Tocantins já era projeto bem antes do de
Marabá, para resolver um problema sério, há mais de 20 anos a economia do
Estado era a mesma, e insuficiente para cobrir as despesas que o
desenvolvimento pedia, precisavam ser duplicadas, triplicadas. Esse projeto de
1892 tinha seu traçado entre Tucuruí e Marabá. Eram também as esperanças dos
habitantes desta região considerada abandonada à sua própria sorte de sertão
inculto.
As terras possuíam recursos naturais superabundantes, que
duplicavam ano após ano e precisavam de
alternativas para vencer trechos secos e a famosa cachoeira da Itaboca,
considerada como tranca do caminho para Belém. Era a saída para escoar a
produção de castanha-do-Pará de Marabá e região de forma contínua, sem depender
apenas da via fluvial, que era favorável no inverno e quase inviável no verão.
Os trabalhos foram iniciados em 1908 e já em 1916 alcançado
o quilômetro 82, metade do trecho Tucuruí (Alcobaça), porto de embarque para
Belém à Praia da Rainha (em 1916) e alcançou Jatobal em 1950 (município de
Itupiranga).
Em 1920 saíam de cena os barcos a remos, cujas viagens entre Marabá e Tucuruí demoravam meses entre ida e volta, chegavam os barcos a motores de explosão a gasolina.
O primeiro motor a desbravar o rio feroz pertencia a Alfredo Monção (Viagem ao Tocantins página 59) e graças ao sucesso da viagem, multiplicaram-se os números destes por aqui. As viagens passaram a ter a duração de apenas 24 horas.
Era uma luta dos governantes paraenses, tirar essa ferrovia do papel para impulsionar a comercialização da produção de castanha até o porto de embarque em Tucuruí.
Em 1920 saíam de cena os barcos a remos, cujas viagens entre Marabá e Tucuruí demoravam meses entre ida e volta, chegavam os barcos a motores de explosão a gasolina.
O primeiro motor a desbravar o rio feroz pertencia a Alfredo Monção (Viagem ao Tocantins página 59) e graças ao sucesso da viagem, multiplicaram-se os números destes por aqui. As viagens passaram a ter a duração de apenas 24 horas.
Era uma luta dos governantes paraenses, tirar essa ferrovia do papel para impulsionar a comercialização da produção de castanha até o porto de embarque em Tucuruí.
Em 1910 havia um carro de passageiros e dois vagões mistos,
quatro vagões fechados, quatorze vagões abertos e treze vagões plataformas. No
final de 1950 obteve duas automotrizes para o transporte de passageiros entre
Tucuruí e Jatobal em apenas 4 horas e meia (antes, os passageiros eram
transportados nos próprios vagões de carga).
Época em que a extração da castanha-do-pará era abundante e
gerava diversos postos de trabalho, desde a colheita nos castanhais, o transporte
até a margem de um estrada ou de um rio e, para muitos canoeiros e barqueiros.
Sem contar os serviços de estivadores e dos trabalhos nos barracões. Tudo isso tornou
essa cidade e região muito próspera, com vida própria e independente de
produção por ações governamentais. Se antes havia trabalho braçais para muitos,
vivia-se muito bem através da riqueza natural e sustentável, tudo isso foi
invertido com a chegada da tecnologia, cujas máquinas tomou o lugar dos
trabalhadores, hoje quem mais trabalha são as máquinas, para tristeza dos
trabalhadores.
A Estrada de Ferro Bragança tinha a borracha como seu principal produto e teve suas atividades encerradas
entre 1957 e 1960, e quando estava ativa emprestou parte de suas máquinas para
a Estrada de Ferro Tocantins, que a castanha seu principal produto a escoar, esta, funcionou até 1967 sem alcançar Marabá que
chegou a colocar dinheiro para sua construção (na época do Prefeito Coronel
João Anastácio de Queiroz). Os trilhos foram retirados para a abertura de
estradas. Mais uma vez o progresso decidia o destino de uma região,
infelizmente não nos trouxe um futuro brilhante, para a construção da
Hidrelétrica de Tucuruí fez-se necessária a formação de uma grande bacia, o
Lago de Tucuruí, que inundou o que restou deste acervo arquitetônico, cobrindo
o trecho da linha férrea e das estações e paradas, tudo ficou submerso e adeus
história da segunda ferrovia totalmente em território paraense. Ainda existe
alguma coisa para ser vista desta história em Tucuruí, uma velha locomotiva
ainda existe por lá.
Tivemos duas importantes estradas de ferro, um belo passado,
quer dizer, belas páginas de histórias que estão registradas e podemos apresenta-la
como mais um registro. O desenvolvimento que se buscou teve pouca duração, não
foi uma aventura, mais ocorreram muitas politicagens e não foi capaz de superar
os obstáculos que apareciam. Foi um sonho que passou e nada será como antes,
até perdemos nossos castanhais. Com saudades destes tempos. Tchau!
Texto de: Francisco Arnilson de Assis
Fontes históricas e créditos das imagens:
Mattos, Maria Virgínia de. História de Marabá. 2 ed. revisada e aumentada, pag. 168, Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2013.
Moitta, Inácio de Souza. Parijós, Nélson. Bastos, Augusto. Bastos, Antônio e Duarte, Leônidas Gonçalves. Viagem ao Tocantins. 2 edição, pags. 59 à 68 a , Editora Grafisa, 1983.
http://www.lugaresesquecidos.com.br/2012/09/
https://fauufpa.org/2012/05/06/locomotiva-maguary-da-estrada-de-ferro-de-braganca-sobre-a-rotunda-de-marituba/
http://uruatapera.blogspot.com.br/2014/11/icoaraci-e-sua-estacao-ferroviaria.html
http://www.interconect.com.br/clientes/pontes/Estrada/Album1.htm
http://eftpa.blogspot.com.br/2013/01/4-locomotivas.html
http://tucurui-forever.blogspot.com.br/2009/12/tucurui-e-um-lugar-de-desbravamentos.html
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