sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A SELFIE DA MONA LISA

Nosso Brasil conta com grandes e importantes museus, que podem e devem ser mais divulgados para a população e nossos visitantes. Mas o que me chama mais atenção não é a qualidade das exposições ou obras, mas sim, a visão limitada que alguns dirigentes têm com relação a fotografar. “É proibido tirar fotos das obras de arte”. Essa frase nada hospitaleira está presente em placas e nos sussurros de seguranças. Porém, em um mundo moderno do compartilhamento, essa atitude, que é pauta de diversos debates pelos profissionais e acadêmicos das artes, precisa ser revista.

O museu é sempre um dos principais atrativos de um destino, seja pela sua carga histórica, com obras e objetos que só se viam em livros de histórias, seja pela ausência da barreira da língua, principalmente quando se trata de quadros e esculturas.

Em todos os lugares que viajo, faço questão de conhecer o museu local. Questionando alguns profissionais dos museus brasileiros sobre esse limitação, as respostas que obtive foram diversas: “tirando fotografias, as pessoas não apreciam de verdade a mensagem proposta”; “o público que para parar fotografar atrapalha a passagem”; ou, pasmem, ao levantar a possibilidade de maior divulgação do local e das obras por meio desses registros: “não precisamos crescer”.


É preciso estar atento ao espírito do tempo. O compartilhamento em tempo real, por meio de check-in no Facebook e fotos no Instagram, por exemplo, é fundamental no comportamento e na experiência do público. É o “EU VOU” para depois dizer que “EU FUI”.


Muitos argumentos constatam que as fotos tiradas de forma amadora não possuem valor real e que, no geral, todas as obram já se encontram no Google – inclusive, com muita qualidade e resolução. Mas, assim como um belo quadro de Botero, o significado desse comportamento é subjetivo. O motivo é outro. É exclusivamente a selfie – por vezes torta e mal tirada mesmo - que vai trazer boas lembranças no futuro (e reações no presente), na qual amigos e familiares poderão comentar, se inspirar e programar uma visita; é para influenciadores mostrarem aos seus milhares seguidores o quão proveitoso pode ser um passeio como esse; e muito mais.

Assim como em diversos outros momentos da vida, o que conta é o bom senso. O flash das máquinas fotográficas e celulares podem adulterar as cores das pinturas; selfies com muitas pessoas podem atrapalhar outros amantes da arte que precisam de silêncio para absorver a mensagem do artista... Mas, a exemplo de exposições modernas, é possível se preparar, criando ambientes exclusivos ou orientações específicas para quem gostaria de tirar fotos, além de outras áreas de convivências, como restaurantes e lojas integradas.

As obras de arte, ainda que carregadas de valores comerciais ou direitos autorais, são um patrimônio de todos. De alguma forma, também pertencem ao povo – que precisa ter acesso e que pode criar, sim, seus próprios registros.

Em um mundo em que se discute a importância da arte, proibir o que é uma tendência de comportamento presente em todas as gerações, é colocar o museu na contramão dos principais atrativos turísticos de um destino. É a oportunidade perdida quando não tem necessidade de sobreviver.



·         Toni Sando

PRESIDENTE EXECUTIVO DO SÃO PAULO CONVENTION & VISITORS BUREAU

*Presidente Executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau, Toni Sando tem em seu currículo graduação em Administração de Empresas pela Universidade São Judas Tadeu (USJT), cursou pós-graduação em marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e tem MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Seu histórico profissional inclui destacadas atuações nas áreas de operações, marketing, produtos e negócios no mercado financeiro (bancos Noroeste, Nacional e Unibanco). Durante sete anos dedicou-se à área de marketing da Accor Hotels na América do Sul.

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