sexta-feira, 28 de abril de 2017

Histórias de Marabá contadas pelo Seu Xenco

Seu Xenko 72 anos de muitas memórias do município de Marabá
Raimundo Coelho de Souza, o Seu Xenco como é conhecido, 72 anos, nascido e residente no Bairro Francisco Coelho, o Cabelo Seco, o nosso Pontal. Ele já foi pedreiro, pescador dos rios Tocantins e Itacaiúnas e será o nosso contador de histórias de hoje. Por semana recebe muitas visitas de três a quatro pessoas interessadas por informações acerca da origem da cidade. Ele é um homem muito respeitado na comunidade e será o nosso personagem de hoje. Você vai gostar de saber de um passado histórico e engraçado, das nossas lendas contadas por um homem simples. Vamos enriquecer ainda mais a nossa cultura.


Marabá começou no Pontal
O Pontal de primeiro era uma área maior, o rio foi cortando e deixou menor. Tinha mata nesta beira, uma prainha, um burbuio (seixo) onde a gente brincava muito, eu era menino e ía passarinhar. Também era o lugar das festas de Quadrilhas, de Carnaval, do Rouxinol. Épocas dos prefeitos  Antônio Vilhena (1850-54), Pedro Carneiro (1954-58), depois o Nagib Mutran (1958-62) que foi um bom prefeito, e tinha enchente  a cada 10 anos.

Marabá tinha muito movimento de barco onde hoje é a orla, era o porto, aquela rua Marechal Deodoro (a Orla)era chamada de Marabazinho, ali  atracava os barcos, no verão quase não tinha, no inverno viam os barcos pegar castanhas, vinha as balsas, tinhas as Balsas de Buriti que vinham do Maranhão e do Tocantins, traziam gados, porcos, perus, galinhas. Na balsa vinha de 10 a 20 cabeças de gado e a embarcação ficava aqui. Vinhas as boiadas e seguiam pela Estrada do Boi, atravessava e daqui ía para Tucuruí, não era uma estrada de carro.

Antigo Porto - Atual Orla Sebastião Miranda
Meu pai era maranhense e a minha mãe goiana, se casaram em Carolina (MA) e vieram prá cá. Veio trabalhar como carpinteiro e gostava de pescar e eu nasci aqui no Pontal. Eu me lembro do Burgo do Itacaiúnas, era uma fazenda, quando eu me entendi, era a Fazenda dos Queiroz. Eu não cheguei a conhecer o Coronel João Anastácio de Queiroz (intendente de 1943-45), conheci o Erundino, o Lauro e o João Queiroz. Sobre a morte de Francisco Coelho, se morreu de acidente com o seu rifle ou se foi de ferroada de arraia, não sabe dizer. Mas, lembra que aqui tinha arraia demais, isso tinha.

Marabá começou aqui, não foi no Burgo, aqui que fizeram a Vila e foi crescendo, o Burgo lá era uma fazenda, por baixo da boca do Igarapé do Burgo era a Fazenda do Antônio Vilhena, em cima era a dos Queiroz, que tinha sido do Carlos Leitão e era os Queiroz que tomava de conta. Na beira do Itacaiúnas já tinha muitos moradores, muitos sítios, do burgo para cá era cheio de sítios. Tinha o dos Queiroz, do Nagib Amury, Sebastião Fernandes, Luís Fernandes (cinco a seis irmãos), tinha o Guilhermino mais prá cá, o Pedro Ferreira, da Dona Mazzile eu conheci, era menino ainda, meu pai era conhecido e eu ía com ele nos sítios, fazia serviços, fazia canoas, pescava.


A Lenda da Porca de Bobes
Porca de Bobes, obra de Féiix Mourão, exposta na Biblioteca Municipal
Tinha aqui no Pontal muitas histórias, a da Porca de Bobes era o seguinte. Quando eu era já jovem (16 a 17 anos) andava muito na rua, tinha uns cabarés por aí, a luz apagava meia noite, era motor de luz e apagava meia noite. Corria o boato dessa Porca de Bobes. Eu era novo e não tinha medo dessas coisas. Minha mãe dizia: Uma hora tu vai topar com a Porca de Bobes na rua. Eu dizia que isso era história do povo. O povo falava que era a Porca, era a Matinta Pereira, era a Mulher de Branco e num sei mais o que lá. Da igreja de São Félix pro lugar onde hoje é o Estádio Zinho Oliveira era uma baixada e tinha uma ponte de madeira, atravessava e ia sair na rua Barão do Rio Branco que a gente chamava de rua Nova. Onde é hoje a Biblioteca tinha um senhor chamado de Cacundim, ele tinha uma cacunda, criava porco, bode, carneiro, galinha e s bichos iam pra onde é o Estádio hoje, ali quando no verão era o campo de futebol, no tempo de arraial era o lugar do arraial do boi bumbá, eu me lembro, quando vinha circo botavam lá. Uma noite vindo da rua, junto da ponte correu um barulho grande, eu corri com medo, as luzes já estavam apagadas, mais de meia noite, quando cheguei aqui onde tinha um lugar chamado de pracinha e tinha um pé de cajueiro, só tinha mesmo o pé de cajueiro e, naquele tempo tinha muita gente metido a valente, topei com um cara todo de branco, trabalhava com o Zé Rodrigues e quando me viu disse: O que é isso rapaz? Eu parei e disse, um negócio correu no meio do mato e eu tô achando que é a Porca de Bobes e fomos ver. Eu criei coragem e fui ele tinha uma lanterna bem grande, pegou uma faca chamada de “cabo de tala”, desse tamanho, feita de facão. Quando chegamos perto ele disse: Olha, não chega muito perto de mim, se essa Porca botar em mim eu vou arrancar os bobes dela tudim na ponta da faca. Nós chegamos perto do lugar e a Porca correu de novo, ele focou a lanterna no meio do mato e disse que era uma porca, mais não tem bobes não! Tem muitos porquinhos perto dela. Era uma porca parida. Na rua todo mundo tinha medo e eu descobri que não tinha essa Porca de Bobes.


A Lenda da Mulher de Branco e o Padre Sem Cabeça
Antigo Banco do Brasil, na beira do Rio Tocantins
Tinha o boato da Mulher de Branco, aparecia essa mulher de branco e sem cabeça. Eu estava na rua de novo, nesse tempo as luzes ficavam acesas a noite toda. O Banco do Brasil era na Beira do Rio perto da Orla, na Praça São  Félix (perto do Restaurante Domani), era tarde da noite, onze horas, eu vinha da rua, estava chuviscando, tinha uns pés de manga onde hoje é a Praça de São Félix, onde hoje tem uma oficina (já foi o Bacabas), não tinha ninguém na rua e tinha o chuviscado, eu enxeguei aquele troço, caramba. Rapaz, é um bicho que o pessoal fala, eu olhava e enxergava que tava sem cabeça. Fiquei parado por trás de um pé de manga. Eu fiquei olhando prá lá, uma hora tava numa posição, outra ora em outra posição, uma hora tava de frente e depois de costa, de banda. Tá errado esse negócio, com vontade de passar e tava nervoso. Ele descobriu que eu tava com medo e perguntou o que eu estava fazendo ali. Eu disse que tava esperando a chuva passar. Me aproximei e pedi um cigarro e descobri que era um guarda, com o chuvisco ficava com uma capa e ficava meio escondido. Eu disse que ele estava assuntando o pessoal no Cabelo Seco, tavam falando até que era um padre sem cabeça. Caímos na risada e vim embora. Continuei andando e encontrei um grupo de pessoas assustadas com o padre sem cabeça, era o guarda do Banco do Brasil. Levei a turma para desfazer aquele mistério, uns diziam que era uma Mulher de Branco e outros que era um Padre Sem Cabeça. E acabou com essa lenda. kkk


Agradeço aos amigos Adenildo e Raquel Vanaína pelos comentários.

Texto de: Francisco Arnilson de Assis

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