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Seu Xenko 72 anos de muitas memórias do município de Marabá |
Raimundo Coelho de Souza, o Seu Xenco como é conhecido, 72 anos, nascido e residente no Bairro Francisco Coelho, o Cabelo Seco, o nosso
Pontal. Ele já foi pedreiro, pescador dos rios Tocantins e Itacaiúnas e será o
nosso contador de histórias de hoje. Por semana recebe muitas visitas de três a
quatro pessoas interessadas por informações acerca da origem da cidade. Ele é
um homem muito respeitado na comunidade e será o nosso personagem de hoje. Você
vai gostar de saber de um passado histórico e engraçado, das nossas lendas
contadas por um homem simples. Vamos enriquecer ainda mais a nossa cultura.
Marabá começou no Pontal
O Pontal de primeiro era uma área maior, o rio foi cortando e deixou
menor. Tinha mata nesta beira, uma prainha, um burbuio (seixo) onde a gente
brincava muito, eu era menino e ía passarinhar. Também era o lugar das festas
de Quadrilhas, de Carnaval, do Rouxinol. Épocas dos prefeitos Antônio
Vilhena (1850-54), Pedro Carneiro (1954-58), depois o Nagib Mutran (1958-62)
que foi um bom prefeito, e tinha enchente a cada 10 anos.
Marabá tinha muito movimento de barco onde hoje é a orla, era o porto,
aquela rua Marechal Deodoro (a Orla)era chamada de Marabazinho, ali
atracava os barcos, no verão quase não tinha, no inverno viam os barcos
pegar castanhas, vinha as balsas, tinhas as Balsas de Buriti que vinham do
Maranhão e do Tocantins, traziam gados, porcos, perus, galinhas. Na balsa vinha
de 10 a 20 cabeças de gado e a embarcação ficava aqui. Vinhas as boiadas e
seguiam pela Estrada do Boi, atravessava e daqui ía para Tucuruí, não era uma
estrada de carro.
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Antigo Porto - Atual Orla Sebastião Miranda |
Meu pai era maranhense e a minha mãe goiana, se casaram em Carolina (MA)
e vieram prá cá. Veio trabalhar como carpinteiro e gostava de pescar e eu nasci
aqui no Pontal. Eu me lembro do Burgo do Itacaiúnas, era uma fazenda, quando eu
me entendi, era a Fazenda dos Queiroz. Eu não cheguei a conhecer o Coronel João
Anastácio de Queiroz (intendente de 1943-45), conheci o Erundino, o Lauro e o
João Queiroz. Sobre a morte de Francisco Coelho, se morreu de acidente com o
seu rifle ou se foi de ferroada de arraia, não sabe dizer. Mas, lembra que aqui
tinha arraia demais, isso tinha.
Marabá começou aqui, não foi no Burgo, aqui que fizeram a Vila e foi
crescendo, o Burgo lá era uma fazenda, por baixo da boca do Igarapé do Burgo era
a Fazenda do Antônio Vilhena, em cima era a dos Queiroz, que tinha sido do
Carlos Leitão e era os Queiroz que tomava de conta. Na beira do Itacaiúnas já
tinha muitos moradores, muitos sítios, do burgo para cá era cheio de sítios.
Tinha o dos Queiroz, do Nagib Amury, Sebastião Fernandes, Luís Fernandes (cinco
a seis irmãos), tinha o Guilhermino mais prá cá, o Pedro Ferreira, da Dona
Mazzile eu conheci, era menino ainda, meu pai era conhecido e eu ía com ele nos
sítios, fazia serviços, fazia canoas, pescava.
A Lenda da Porca de Bobes
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Porca de Bobes, obra de Féiix Mourão, exposta na Biblioteca Municipal |
Tinha aqui no Pontal muitas histórias, a da Porca de Bobes era o
seguinte. Quando eu era já jovem (16 a 17 anos) andava muito na rua, tinha uns
cabarés por aí, a luz apagava meia noite, era motor de luz e apagava meia
noite. Corria o boato dessa Porca de Bobes. Eu era novo e não tinha medo dessas
coisas. Minha mãe dizia: Uma hora tu vai topar com a Porca de Bobes na rua. Eu
dizia que isso era história do povo. O povo falava que era a Porca, era a
Matinta Pereira, era a Mulher de Branco e num sei mais o que lá. Da igreja de
São Félix pro lugar onde hoje é o Estádio Zinho Oliveira era uma baixada e
tinha uma ponte de madeira, atravessava e ia sair na rua Barão do Rio Branco
que a gente chamava de rua Nova. Onde é hoje a Biblioteca tinha um senhor
chamado de Cacundim, ele tinha uma cacunda, criava porco, bode, carneiro,
galinha e s bichos iam pra onde é o Estádio hoje, ali quando no verão era o
campo de futebol, no tempo de arraial era o lugar do arraial do boi bumbá, eu
me lembro, quando vinha circo botavam lá. Uma noite vindo da rua, junto da
ponte correu um barulho grande, eu corri com medo, as luzes já estavam
apagadas, mais de meia noite, quando cheguei aqui onde tinha um lugar chamado
de pracinha e tinha um pé de cajueiro, só tinha mesmo o pé de cajueiro e,
naquele tempo tinha muita gente metido a valente, topei com um cara todo de
branco, trabalhava com o Zé Rodrigues e quando me viu disse: O que é isso
rapaz? Eu parei e disse, um negócio correu no meio do mato e eu tô achando que
é a Porca de Bobes e fomos ver. Eu criei coragem e fui ele tinha uma lanterna
bem grande, pegou uma faca chamada de “cabo de tala”, desse tamanho, feita de
facão. Quando chegamos perto ele disse: Olha, não chega muito perto de mim, se
essa Porca botar em mim eu vou arrancar os bobes dela tudim na ponta da faca.
Nós chegamos perto do lugar e a Porca correu de novo, ele focou a lanterna no
meio do mato e disse que era uma porca, mais não tem bobes não! Tem muitos
porquinhos perto dela. Era uma porca parida. Na rua todo mundo tinha medo e eu
descobri que não tinha essa Porca de Bobes.
A Lenda da Mulher de Branco e o Padre Sem Cabeça
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Antigo Banco do Brasil, na beira do Rio Tocantins |
Tinha o boato da Mulher de Branco, aparecia essa mulher de branco e sem
cabeça. Eu estava na rua de novo, nesse tempo as luzes ficavam acesas a noite
toda. O Banco do Brasil era na Beira do Rio perto da Orla, na Praça São
Félix (perto do Restaurante Domani), era tarde da noite, onze horas, eu
vinha da rua, estava chuviscando, tinha uns pés de manga onde hoje é a Praça de
São Félix, onde hoje tem uma oficina (já foi o Bacabas), não tinha ninguém na
rua e tinha o chuviscado, eu enxeguei aquele troço, caramba. Rapaz, é um bicho
que o pessoal fala, eu olhava e enxergava que tava sem cabeça. Fiquei parado
por trás de um pé de manga. Eu fiquei olhando prá lá, uma hora tava numa
posição, outra ora em outra posição, uma hora tava de frente e depois de costa,
de banda. Tá errado esse negócio, com vontade de passar e tava nervoso. Ele
descobriu que eu tava com medo e perguntou o que eu estava fazendo ali. Eu
disse que tava esperando a chuva passar. Me aproximei e pedi um cigarro e
descobri que era um guarda, com o chuvisco ficava com uma capa e ficava meio
escondido. Eu disse que ele estava assuntando o pessoal no Cabelo Seco, tavam
falando até que era um padre sem cabeça. Caímos na risada e vim embora.
Continuei andando e encontrei um grupo de pessoas assustadas com o padre sem
cabeça, era o guarda do Banco do Brasil. Levei a turma para desfazer aquele
mistério, uns diziam que era uma Mulher de Branco e outros que era um Padre Sem
Cabeça. E acabou com essa lenda. kkk
Agradeço aos amigos Adenildo e Raquel Vanaína pelos comentários.
Texto de: Francisco Arnilson de Assis
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