sábado, 29 de abril de 2017

Turismo à Margem da Política

Raras vezes nas manchetes, o Ministério do Turismo conseguiu ser notícia ao divulgar a liberação de vistos para nacionais de quatro países e a possibilidade de investimento estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras, que passaria de 20% para 100%. A alegria das notícias não durou muito, uma vez que a participação do capital estrangeiro vai ser submetida ao Congresso na forma de projeto de lei e a isenção de vistos foi transformada em visto eletrônico.

Criado em 2003, o Ministério do Turismo já passou por 15 mandatos distintos, ocupados por 10 diferentes políticos, todos sem relação com a área. Atualmente, é o penúltimo ministério na ordem de volume orçamentário. E ainda teve um corte de quase 70% nas verbas para 2017. Algo inimaginável para um país que sediou, em intervalo de 24 meses, os dois maiores eventos esportivos do mundo.

Pesquisadores de turismo de todo o mundo se interessaram pelos reflexos destes eventos, acreditando que os efeitos dos eventos alterariam a imagem da área junto aos gestores públicos. Richard Butler, professor emérito de turismo e um dos poucos pesquisadores laureados com o Ulysses Award, honraria outorgada pela Organização Mundial do Turismo a pesquisadores com obras relevantes para a área, é um deles, e por sua solicitação, foi incluído um capítulo sobre a gestão pública do turismo no Brasil em seu mais recente livro – TOURISM AND POLITICAL CHANGE, editado e publicado no Reino Unido pela GoodFellow Publishers Ltd, em abril.

A pesquisadora e professora da USP, Mariana Aldrigui, foi a autora do capítulo em questão, sob o título “Turismo à Margem da Política”. Nele, ela explica o contexto da criação do Ministério do Turismo, discutindo sua baixa expressividade política, e comenta as ações de pouca efetividade em termos econômicos para um país sede de grandes eventos e com tanta presença em mídia internacional. Por exemplo, mesmo com todas as condições favoráveis, nenhuma das metas originais do MTur foram atingidas. Mais recentemente, as projeções feitas para o ano 2020 foram divulgadas, e são tão ambiciosas quanto inatingíveis.

Ela conclui dizendo que o turismo brasileiro acontece independentemente da intervenção pública, especialmente a de nível federal, e completa: “Se os gestores públicos ao menos compreendessem o que é a atividade e como ela impacta a economia dos diferentes destinos, já teríamos um grande avanço”.


Serviço: Livro: Tourism and Political Change – Richard Butler & Wantanee Suntikul (orgs) – Goodfellow Publishers Ltd – UK – Lançamento em abril de 2017
Capítulo 14 – Tourism on the Fringe of Politics – Dra. Mariana Aldrigui – EACH/USP – aldrigui@usp.br

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