Imagem rara da margem de Marabá, início do séc.XX |
Algumas
povoações foram fundadas na margem esquerda do Araguaia e Tocantins porém, elas
somente subsistiam enquanto a mesma estivesse em evidência desapareciam todas
as vezes que a navegação por um ou por outro motivo era interrompida e voltavam
a existir, quando a navegação era restabelecida.
O
povoamento na região só aconteceu com a presença do Coronel Carlos Leitão, a
partir de 1892, quando foi fundado o Burgo da Itacaiúna, que veremos em outra
postagem. A partir dessa data, as povoações deixaram de ser intermitentes, para
serem definitivas e portanto, a região começou a ter vida própria. Lá pelos idos
de 1613 - 1616, os franceses La Blanjartier, La Planque e Dex Vaux ocuparam a
região circunvizinha a foz do Araguaia, sendo que La Planque, fundou uma
Fortaleza a duas léguas acima da barra do Araguaia, no Tocantins à sua margem
direita, e esta fortificação teve a duração de dois anos, quando em 1616, foram
os franceses desalojados pelos portugueses de Francisco Caldeira Castelo
Branco.
O
governador da Capitania do Grão-Pará, José de Nápoli Tello de Menezes, mandou
fundar a povoação de São Bernardo da Pederneira, em 1781, tendo mais tarde
mudado a sua localização e o seu nome para Alcobaça, que hoje é a cidade de
Tucuruí. D. Francisco Maurício de Souza Coutinho, também governador do
Grão-Pará, mandou fundar a povoação de Arroyos, em 1723, entre a cachoeira da
Guariba e a ilha de Araparí, e Jerônimo Coelho, outro governador, mandou fundar
na margem direita do Tocantins a povoação de Santa Tereza, em 1844, hoje pertencente
ao Estado do Maranhão e se chama Imperatriz.
Houve um
período relativamente longo em que havia um movimento de 25 a 30 barcos entre
Goiás e Pará, que ocupavam de 10 a 24 remeiros cada um. Na descida era quase de
"bubuia" e na subida dos rios, os botes eram içados a remo, vara,
sirga e gancho. Um piloto ganhava Rs 300 (trezentos réis) por viagem e outros
80 réis a oitocentos réis. Os únicos caminhos naturais eram os rios e os
veículos eram os barcos, canoas, igarités, galcotas, botes, balsas, os vapores
e mais tarde os motores. As embarcações citadas eram movidas à força do braço
ou da energia humana, razão pela qual as povoações, vilas e cidade situavam-se,
sempre nas margens dos rios, por causa do transporte.
Os
antigos e pequenos núcleos à margem dos grandes rios eram mantidos pelo governo
da Capitania de Goiás e tinham a seguinte classificação:
a)
presídios militares;
b)
colônias militares;
c)
núcleos de pescadores e coletadores das ervas do sertão.
Os
presídios militares eram estrategicamente colocados nos pontos críticos da
navegação, ou seja, nas cachoeiras, corredeiras, canais, rebojos e travessões
perigosos nos quais teriam que descarregar a embarcação, carregá-la para a
jusante ou montante, conforme a direção da embarcação. Os componentes dos
presídios e colônias eram das tripulações na transposição dos obstáculos da
navegação. Esses núcleos tinham também o poder de policiar a navegação,
evitando a fuga de escravos das minas de ouro, do contrabando do ouro e pedras
preciosas e a fuga de criminosos e malfazejos.
Os
núcleos de pescadores e coletadores das ervas do sertão. colocavam-se em pontos
estratégicos. Pescadores de pirarucu, caçadores de tartaruga, jabuti e outros
quelônios, sustentavam os predadores de nossas amêndoas, cacau, baunilha,
canela, cravo e guta-percha, os quais eram exportados principalmente para a
Inglaterra, país que foi o maior colonizador-explorador-escravizador do
Brasil-Colônia.
Os
núcleos ribeirinhos-intermitentes que estamos estudando, eram sustentados com
víveres fornecidos pelo governo da Capitania de Goiás, como sal, farinha,
carne-seca, medicamentos necessários, armas, munições para manter a segurança e
a fiscalização, bem assim como para a caça em geral. Os efetivos militares eram
substituídos mais ou menos de 90 em 90 dias, pois não levavam para os núcleos,
presídios e colônias, as suas famílias, pelo temeroso isolamento e
insalubridade destas brenhas ocultas. Era costume também, levar para os
presídios militares ribeirinhos, os prisioneiros perigosos que iam cumprir pena
porque teriam de enfrentar os perigos e se tentassem fugir, certamente
sucumbiriam pelas feras, índios, afogamentos, febres ou engolidos pela
densidade da silva, (Correio oficial de Goiás, n° 64 de 19/04/1852).
Veremos agora a posição individualizada dos principais
núcleos humanos intermitentes. Alguns desapareceram para sempre, outros
renasceram e hoje constam de nossos conjuntos urbanos. Por exemplo, de acordo
com levantamentos feitos em diversos números do "Jornal Província de
Goiáz", de 1852 a 1870, encontramos as seguintes povoações intermitentes e
que hoje, são cidades, vilas ou povoações como os presídios de Barreira Velha,
- 35 pessoas, Santa Maria da Barreira - 47; Santana - 18; Foz do Gradaús - 15;
Aldeia Velha - 12; Itaipava - 41; Santa Isabel - 78; São João - 109 (São João
do Araguaia); Barra do
Taquanhonha - 38 (Marabá hoje); Registro
do Itaboca - 128; Tauirí - 15; Santo Anastácio - 27; Bela Vista - 16; Arumateua
- 85 e Arroyos - 32 pessoas.
A corte portuguesa emitiu a Ordem Régia a D. Francisco de
Assis Mascarenhas então governador da Capitania de Goiás, para fundar o presídio
da Barra do Taquanhonha, o que foi executado por Braz Martins de Almeida em 27
de fevereiro de 1804. Ora, se em 1870 já se referia a esse Presídio, infere-se
que houve moradores no Pontal por muitos anos antes de sua fundação, embora não
haja referências sobre vestígios de povoações anteriores. Parece-nos que a
presença desse presídio, estava ligada ao quilombo ou mocambo, conhecido por
"Quindangues", fundado por negros fugidos das minas de ouro de Goiás,
dos escravos fugidos dos canaviais e cacauais de Cametá, somados aos criminosos
fugidos das Capitanias do centro-sul. Além do mais, o presídio tinha também a
incumbência de policiar o rio Taquanhonha (Tacaiúna) do contrabando de ouro,
ervas, pedras coloridas, que eram fartas na região, conforme roteiros de
diversos bandeirantes. Em 26 de junho de 1809, chegou um reforço do governo de
Goiás, por recomendação do Reino, capitulado pelo Coronel José Manoel da Silva
Oliveira, tal era a evasão do ouro e das pedras coloridas, para a Guiana
Francesa, de acordo com documentação do Arquivo Público de Goiás, Pacotes 1803
- 1804, 1806 - 1809, caixa n° 06, Praça Cívica - Goiânia - GO.
Em outro título, estudaremos o Alvará de 18 de março
de 1809, que trata da criação da Comarca do Norte, formadora do novo Estado do
Tocantins, conforme documentos acima citados. Pelo acervo de informações
emitidas neste trabalho, inflete para os estudiosos, a luta que se travou e as
dificuldades profundas e inglórias para o povoamento da rica Região do Sul e
Sudeste do Pará, tão pretendido por Goiás nas primeiras décadas do presente
século.
D. Francisco M. de Souza Coutinho, governador da capitania
do Grão-Pará, autorizou a Vasco Manoel de Braun, engenheiro militar, mudar a
povoação de São Bernardo da Pederneira, da cachoeira de Tupaynaquára, uma légua
paa cima, na foz do rio Caraipé, e ali fundou a povoação de Alcobaça em 1782,
fundou as povoações de Nazaré dos Patos (hoje município de Breu Branco), Arroyo
e Araparí em 1791, segundo Ignácio B. de Moura - página 88 do livro de "Belém
a São João do Araguaia" - 1910.
Segundo as mesmas fontes, o mesmo Souza Coutinho que
mandara fundar o Registro da Itaboca, mandou retirar a população para a Barra
do Araguaia, ali fundou a Colônia Militar de São João do Araguaia em 1791, cujo
sítio foi escolhido numa ribanceira pedregosa, da qual dava vista completa para
o encontro das águas dos dois grandes rios e ali foram colocadas duas peças
pesadas de artilharia, para garantir o policiamento da navegação do
Araguaia-Tocantins, bem próximo a praia do Tição.
Na saída de Matacurá, Souza Coutinho fundou a povoação do
Muru, com 30 índios Aruã, trazidos da ilha do Marajó, para ajudar na
domesticação dos índios daquela região, conforme informações da revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo VII - 3ª edição,
página 384. O Registro do Itaboca, há pouco referido foi fundado por Joaquim
José Máximo, por recomendação de Souza Coutinho, que um ano depois, mandou
transferir a sua população para São João do Araguaia.
Fonte:
livro "As origens de Marabá", de José da Silva Brandão, edição de
1998, pags. 126 - 130.
Série II
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