quarta-feira, 26 de abril de 2017

Cidade sem cultura. É mesmo?

Tenho ouvido de alguns que não temos identidade cultural e mesmo uma cultura própria. Muitos olham pelo contexto atual, de uma cidade muito miscigenada e acolhedora de influências alheias em desprezo da própria. Nós temos uma cultura que cresceu com raízes fortemente indígenas. Muita coisa vamos descobrir que advém dos primeiros habitantes destas terras, os índios. Vamos começar pelo nome Marabá, que era uma ninfa cultuada como protetora dos animais, nome depois maculado e modificado de seu contexto primitivo, portanto, o sentido original. Os nomes de nossos rios, começando pelo rio Itacaiúnas, nome de uma tribo que havia nestas terras, não muito numerosa que foi extinta e tem um significado: Taká-Y-Una, onde  Taká que dizer castanha, o Y significa rio e Una preta, portanto, quer dizer Rio de Castanha Preta.
Nosso outro grande, o rio Tocantins era o nome de uma tribo indígena da região chamada de Bico do Papagaio e, no tupi que dizer Tukan tucano e Tin nariz, donde se conclui Bico de Tucano, em referência a confluência dos rios Araguaia e Tocantins.

Ainda sobre a raiz indígena, estudos comprovam a existência de muitas nações nesta região do Sul e Sudeste, a maioria extintas, onde as principais são: Karaja, Javaé, Apinayé, Chambioá, Tukano, Takayuna, Jawary, Kopen-rop, Jundihay, Arupay, Tupirawa, Jakundá, Timyrém, Aruã, Yuruna, Purukaroo, Kaiapó, Kraotyri, Kuben-kra-note, Ira-Amrayre, Amanayé, Guajá, Timyém, Kurupiy, Kurupiytí, Anambé, Karambú, Pakajá, Pés-largo, Pokise, Karajápitanga, Karajáuna e as tribo atuais, Parkateje ou Gavião, Parakanã, Assuriní, Arara, Gorotyre, Suruí e Xikrin. Na medida que os brancos chegavam à região, estas nações indígenas iam entrando para a floresta, umas mudavam de nome, outras menores se confundiam ou eram absorvidos pelos brancos ou tribos maiores.

Os nossos Takaiúna foram atacados pelos Mundurukú provenientes do baixo Tapajós e a tribo foi quase dizimada em 1721. Os Mundurukú foram batidos na guerra pelos Apinayé e fugiram a esquerda atingindo Belém, onde fizeram amizades com os brancos e ali se fixaram deinitivamente.

Naqueles tempos do início do povoamento do Burgo do Itacaiúna as caçadas de animais eram uma constante e havia fartura, desde pássaros, quelônios como a tartaruga, o tracajá, a muçuã e o matamatá, a pesca e a cata de frutas e cocos variados. Dentre os alimentos de origem vegetal, o açaí, muito nutritivo e, diz-se por aqui "Foi ao Pará, parou. Bebeu açaí, ficou! Também se consumia a bacaba, muito usado como alimento e dela se prepara um delicioso "leite de bacaba", sabor um pouco parecido ao do açaí.

O caucho (o Castiloa ulei) é uma árvore que atraiu muitos desbravadores para as terras de Marabá, se tornou uma cultura muito rentável por muitos anos, responsável para a fabricação de produtos de borracha e de instrumentos farmacêuticos. Essa atividade teve seu ciclo finalizado e hoje pouco é valorizada. Não é o fato de não se ter utilidade no mercado mundial, pois, é uma cultura responsável para a produção de borracha principalmente para pneus de automóveis, tendo a Colômbia comercializado junto a Bridgestone, Continental entre outros. 

O Caucho e a Castanha, a coleta era interessante sendo o caucho em período de seca e a castanha-do-Pará no período de cheias. A vocação dos moradores do Burgo do Itacaiúna era a extração do látex do caucho. Foram os índios Takayuna que ensinaram os portugueses Manoel Brandão e Gonçalo Paes em 1669 a usarem a castanha como alimento, também outros frutos, o frutão, o biribá, o taperebá, do qual ainda hoje se fabrica picolé e sorvete, o cominho como cheiro e a taioba.

Outras comidas valiosas daqueles tempos, a maniçoba, a "panelada", comida preparada com intestinos, pés e certos miúdos de boi, acrescido de toucinho ou chouriço, muito temperado. Também o "pirão" feito de farinha de mandioca, de milho´, de fubá ou de batata, para se comer com a carne, peixe ou qualquer outra iguaria. Também, convém lembrar da Puba, mandioca amolecida na água onde se produz uma massa de mandioca de usos diversos. E tantas outras culturas, como o Tacacá, o Payuá que era uma bebida usada pelos índios Takayuna feita de batata violeta, e com ela era preparado um caxirí vermelho, que tem a cor e a doçura de um champanhe espumante. O "Cauím" bebida feita de milho, também de costume dos Takayuna.

A dança do Tipití, o Homem do Norte, o Tataitá e o Caucho, o Canto do Tincoã, A Iára, a crença na Terra do Urutaí, o Pé de Garrafa, a Lenda do Boto e enfim, parando por aqui. Me cansei de falar de cultura, é muita coisa. Acho que ainda falta a Lenda da Boiúna, da Porca de Bobes, a História da Guerrilha do Araguaia, do Garimpo de Serra Pelada?... Parei...

Francisco Arnilson de Assis

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Imprimir Artigos

Print Friendly and PDF