domingo, 14 de maio de 2017

Memória Fluvial de Marabá, da balsa de buriti aos motores

Voltando ao tema do Porto das Canoinhas, sobre a Memória Fluvial de Marabá, dos anos de forte produtividade da castanha, lembrando que o primeiro ciclo se deu no Burgo do Itacaiúnas, tendo como auge os anos de 1907 até 1919, em declínio até alcançar 1927. A castanha do Pará (Bertholletia excelsa) permitiu o fortalecimento da economia local, foi o segundo ciclo (o primeiro foi o do Caucho no Burgo do Itacaiúnas), vamos destacar um momento bastante precioso, o ano de 1926, apesar de ter ocorrido uma grande enchente, razão pelo qual o Governador Dionysio Bentes de Carvalho, encaminhou o Secretário Geral do Estado do Pará o Sr. Deodoro Machado de Mendonça, chegou a essas terras moças para dar apoio as vítimas de uma enchente que quase destrói a cidade, pelas águas do Tocantins e Araguaia. Desenho do pintor Domingos Nunes.


Este texto tem como base um livro genial, cujo autor preferiu o anonimato mas, graças a iniciativa do Prefeito Municipal Paulo Bosco Rodrigues Jadão e a gentileza do Dr. João Queiroz e Antonio de Araújo Santos, que cederam a obra de suas bibliotecas particulares, "Viagem ao Tocantins" foi reeditada em 1983. 

Pretendo direcionar os olhares e as mentes para "A Memória Fluvial de Marabá" e sua grande agitação nos imensos castanhais fez ferver estas terra, e causou grande movimentação por estes rios da região. A produção dessa castanha do Pará tem sua produção intensificada em Marabá no ano de 1920, com os comerciantes do município formando suas frotas de embarcações de todos os portes, trazendo para a região os motores a gasolina e a vapor.

Em 1926, foi exportado pelo Estado do Pará 401.111 hectolitros, no valor oficial de 15.239:782$095, pagando de impostos 2.285:967$313, de Marabá foram 120.417 hectolitros, deste ano em diante ocorreu um declínio da produção


A Balsa de Buriti 

Antes o transporte da castanha servia-se estradas rudimentares, tropas de burros para a retirada da castanha coletada, passavam por pontes de madeira, mas, o principal sistema era o fluvial que empregavam os batelões, grandes barcos impulsionados por ganchos e forquilhas, com auxílio do remo e da voga. Os pioneiros vindos de Carolina no Maranhão, utilizaram a Balsa de Buriti, embarcação primitiva que servia ao transporte de pessoas, insumos e de gado. Imagem ao lado retirada da internet no site da Fundação da Casa da Cutura de Marabá.

A navegação da Balsa navegava rio abaixo, não se usava contra as correntes, daí, ao chegar ao destino a mesma era desmanchada e sua madeira usada para outros fins.

O primeiro cartorário e escritor José Maria Barros em seu livro “Marabá”, relata sobre as balsas, "elas desciam pachorrentas (lentamente, monotonia) o rio Tocantins, carregadas de mercadorias para serem vendidas em Marabá.”

As eram confeccionadas em Carolina no Maranhão  de talas de buriti, extremamente leves depois de secas, sua viagem de Carolina até Marabá levava semanas. A única forma de maneabilidade das balsas era uma pá de remo adaptada a uma longa vara, com a qual era mantida no “fio” da correnteza, isto é, onde ela era mais forte, evitando os remansos e águas paradas. Pachorrentas e poéticas, as balsas deixavam-se levar pela correnteza do rio, elas contribuíam com destaque para o desenvolvimento da região ao transportar cereais, frutas, aves, porcos, cabra, carneiros, carne seca, toucinho, rapadura, doces de leite, de coco e de buriti. Há registro fotográfico de que as balsas ainda eram utilizadas nos anos de 1920 e 1925;


Os Batelões

Álvaro de Barros Lima conta: "a aproximação dos batelões era anunciada pelo tan-tan cadenciado dos calcanhares dos barqueiros, batendo o convés da embarcação, acompanhado de quadrilhas alusivas às suas vidas, seu trabalho e seus amores". Também usava-se os "Pentas", barcos a motores de popa e capacidade de transporte de 9 a 10 toneladas. (A história de Marabá, Virgínia Mattos 2013, pag.: 71;72).


Chegam os motores

Os rios Tocantins e Itacaiúnas em Marabá foram palco de extraordinária movimentação de embarcações de pequeno calado, balsas, botes, reboques, montarias, lanchas e os motores. Era o fim da navegação de canoas a remos, forquilhas e ganchos, a única existente a 7 ou 8 anos, nas quais as viagens duravam meses entre ida e volta, ligava Tucuruí aos centros agrícolas e pastoris do Tocantins e Araguaia. 

As lanchas encurtavam as viagens e diminuíam os perigos das cachoeiras, eram rápidas e potentes, de força contínua para vencerem as adversidades. Tucuruí recebia, na época (estamos em 1926) muitas embarcações vindas de Belém e as vilas e cidades do Maranhão convergiam para Marabá.

Para o transporte entre Marabá e Tucurui, ou Belém, usavam-se os "motores", barcos de maior calado, dotados de motores a diesel instalados no entro da embarcação. 

Foram os motores que desmancharam o grande espanto das cachoeiras, pelo menos tornavam menos apavorantes, mais camaradas. Os motores possantes venciam as corredeiras e chegavam muito rapidamente nas proximidades dos castanhais, com enormes espaços enormes para seu armazenamento, quer dizer, transporte. E o primeiro "motor"  chegou por intermédio de Alfredo Monção, um desbravador da região e logo esse efeito multiplicou-se rapidamente, mais de 70 transitaram nestas artérias fluviais. 

Os motores vieram a socorrer, com rapidez e eficiência, muitas das vítimas da enchente de 1926. Encurtavam a duração de viagens e a transportar grandes quantidades de castanhas, agora, sai de cena os barcos e canoas a remos, pequenos e vitimas das cachoeiras. 

É importante considerar que a região embora dessem lucros e a forte presença do fisco e suas imposições, não obstante, vivia sem os suportes do Governo Federal, não havia na cidade uma agência de correios, dos telégrafos que já havia nos municípios vizinhos de Imperatriz no Maranhão, Boa Vista em Goiás (atual Tocantinópolis no Tocantins) e uma outra sendo inaugurada em Carolina no Maranhão, 

A Memória Fluvial de Marabá poderá ser objeto para a apresentação das fases de navegação entre Marabá e os grandes centros produtores e exportadores de castanha, tudo graças a navegação de intrépidos balseiros, barqueiros e suas embarcações de 8 metros, até 18 metros de comprimento. A luta entre os barqueiros e os rebojos da Cachoeira do Itaboca (agora submersa pelo lago da Hidrelétrica de Tucuruí), do Pedral do Lourenção (em Itupiranga) que, em muitas ocasiões era a força do braço o condutor a vencer as correntezas, serem puxados. 

E seus proprietários

Apenas um pouco sobre o registros sobre os grandes proprietários de embarcações. Vale considerar que os comerciantes também possuíam lanchas a vapor, com por exemplo: a Boa Nova de Messias José de Souza; a Bemvinda e a Cecyanna de Hermínio Sotero; a Gazita de Clarindo Cavalcante; Alves de Castro de Diógenes Gonçalves de Souza e; Goyaz de Emiliano Erenio.

Os motores de explosão dominavam o tráfego de Marabá. sendo as maiores frotas e a quantidade produtos transportados:

  • Brabo & Comp tinha 03 embarcações (Deveck transportava 220 barricas, Campeão 300 barricas e Buick 130 barricas) que totalizavam 640 barricas
  • João Anastácio de Queiroz tinha 03 (Anajaense 170, Vera Cruz 220 e Triumpho 12o barricas) e trasportavam 510 barricas
  • Martinho Motta tinha 03 (Santa-Cruz 200, Bataclan 100 e Sororo 100), transportavam 400 barricas
  • Servulo Brito tinha 02 (Minas Gerais 300 e Santa Rosa 100), transportavam 400 barricas
  • Uadi Moussalem, tinha 02 (Santo Elyas 220 e Rio Araguaya 160), transportavam juntas 380 barricas de castanha
  • Calisto Yaghy com 02 (Neptuno 240 e Tristão 120), transportavam 360 barricas
  • Kalil Mutran tinha 02 (Almirante 180 e Tupysinho 140), somadas transportavam 320 barricas
  • João Lima, 02 (Aza Vermelha 200 e Limasinho 120)  que transportavam juntas 320 barricas.


Fontes de pesquisa:



  • Mattos, Maria Virgínia Bastos de. História de Marabá - Centenário de Marabá de 1913-2013, Fundação Casa da Cultura de Marabá, Marabá, 2013;
  • Obra apócrifa. Viagem ao Tocantins - editada em 1926, Edição de 1983, Editora Grafisa, Belém 1983.
  • http://www.casadaculturademaraba.com.br/construcao-da-balsa-de-buriti.php


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Imprimir Artigos

Print Friendly and PDF