sábado, 29 de abril de 2017

Marabá nasceu no Burgo do Itacaiúnas

Estamos contando a história de Marabá, há muitos elementos históricos que precisam ser reconsiderados, há informações equivocadas sobre o nascimento da Cidade, muitos apontam que foi no Pontal, não foi mesmo. E, com base na obra do Professor Brandão, vamos assentando os tijolos de um conhecimento pouco divulgado e até impreciso. Realmente precisamos considerar o Burgo do Itacaiúnas como o local que deu origem ao povoamento do município. A história será recontada. 


Em 1894, chegou ao núcleo o Coronel Carlos Gomes Leitão a fim de assinar contrato, pelo qual lhe é dado, pelo governador, a permissão para se estabelecer dentro do prazo de 5 anos, a margem esquerda do rio Tocantins, na região desabitada entre a foz do rio Itacaiúnas e a Praia da Rainha, nas condições de acomodar a instalação de 100 famílias nacionais, do Estado do Pará, com quem ficou estabelecido, fez-se efetivo o presente contrato:

“O contracto garante a Carlos Gomes Leitão, a subvenção de 200 contos de réis (200.000$000), a proporção que os imigrantes fossem se estabelecendo em grupos de 20 famílias. Essa subvenção será paga em três prestações, podendo a primeira ser paga adiantadamente para auxiliar as despesas de transportes mediante garantia de fiança idônea aceita no tesouro do Estado. A segunda prestação será paga em seguida a localização no lote e a última depois de começada a cultura em área derrubada nunca inferior a 2.500 metros quadrados e estabelecida a moradia em casa decentemente construída”. 


Primeiras vocações econômicas de Marabá
A força de trabalho do povo do Burgo ocupada na agricultura e na criação de gado bovino e também de pequeno porte. Praticavam-se o extrativismo de castanhas, que era muito farta e ao mesmo tempo, era aproveitada na alimentação dos habitantes do Burgo, associado a caça e a pesca praticada por grupo especial para esse fim. 

As roças eram próximas à povoação ou sede do Burgo, a criação de gado bovino iniciada na Ilha do João Vaz, numa área de 240 hectares, onde se produziu carne e leite. Ali estava instalado, desde 1892, a fazenda de criação de gado do Sr. José Clementino, genro do Coronel Carlos Leitão. A criação de gado estendeu-se para as ilhas das Novilhas e do Jacaré.

O governo de Lauro Sodré deixou de pagar as duas prestações contidas nas cláusulas n° 24, no valor total de 186 contos de réis do contrato celebrado em 23 de julho de 1904. O não pagamento destas prestações impediu o coronel Carlos Leitão de adquirir ferramentas como engenhos de cana, teares para a tecelagem, formas para a torragem de farinha e etc.


Inspeção do Governo do Pará
Em 1896 o governo do Pará enviou o engenheiro e deputado Ignácio Baptista de Moura. Leitão e outros homens do Burgo acompanharam na inspeção do Burgo do Itacaiúnas. Na viagem Ignácio Moura fez um completo relatório de viagem e de tudo que viu e transformou esse relatório em um livro, intitulado: "De Belém a São João do Araguaia", publicado pela gráfica Irmãos Garnier.

Na viagem que Ignácio Moura fez ao Burgo Agrícola do Itacaiúnas presenciou a passagem de boiadas pela velha "estrada do boi", construída em 1874, de São Vicente do Araguaia até Nazaré dos Patos (atualmente Breu Branco). Eram boiadas de 74, de 270, de 580 e de 627 reses respectivamente, pode aquilatar o sofrimento daqueles que tangem gado por um caminho de peripécias.


Ele ficou dois dias na casa do Capitão Francisco Acácio de Figueiredo na povoação de Areão, onde conversaram longamente, porque os moradores de Areão, também estavam incluídos no contrato anteriormente mencionado. Mais acima no Lago Vermelho, esteve nas casas de Vicente Liart e Raymundo Vicente da Silva Braga, que eram professores em Boa Vista e agora também faziam parte dos escorraçados, ali também visitou um núcleo de plantação que estava sob a orientação de um preto velho muito estimado por nome de "Mestre Germano".

José Clementino era genro de Carlos Leitão e estava com uma fazenda de criação de gado na Ilha das Novilhas, onde aportaram antes da chegada ao Burgo Agrícola do Itacaiúnas. Ignácio de Moura e Carlos Leitão foram recebidos com festas e manifestações de alegria. Esperava-os com muita comida fresca e bem preparada, coisa que há muitos dias eles não viam e nem apreciavam, uma vez que a comida no barco era preparada pela tripulação.

Ignácio de Moura ficou admirado com a beleza das roças, a fartura que ali reinava e a maneira caprichosa como eram tratadas as plantas e a limpeza dos barracos onde as populações moravam. Encontrou só no núcleo do Burgo do Itacaiúnas 222 habitantes, distribuídos em 75 famílias, unidas entre si, que, embora tenha perdido quase tudo o que possuíam em Boa Vista, estavam sadios e esperançosos e que já faziam amizades e relações mais estreitas com os índios da margem esquerda do rio.

Foi de muita valia a inspeção-visita de Ignácio de Moura. Ele providenciou a instalação de escolas para o sexo masculino e feminino, bem assim como mandou trazer do Maranhão pessoas aptas a fazer tijolos e telhas para viabilizar as construções de moradias, das escolas e da ermida católica. Madeira-de-lei apropriada para as construções já se encontravam no local, colocada pelos habitantes do Burgo.

Com o advento das águas grandes (enchentes) de 1894 muitas moradias haviam sido atingidas. Para abrigar imediatamente as famílias o coronel Carlos Leitão idealizou junto a todos do Burgo, construiu três barracões comprados de modo que em cada um deles eram abrigadas 17 famílias. O critério era o de identificar parentes, para ocupar o mesmo bloco de barracões, que embora fossem cobertos de palha de palmeira, eram bem feitos e confortáveis.

Como o Estado não cumpriu o contrato com o Coronel Carlos Leitão, em 23 de julho, ele não cobrou a devolução da prestação ou quota, acima referida. Ignácio de Moura, nesta viagem visitou o Seco Grande, Landy e São João do Araguaia, onde agenciou a instalação de escolas.


Notas:
A Igreja de São Félix de Valois, construída em Marabá, surgiu de uma promessa paga pelo comerciante Francisco Acácio na década de 1920.

Lauro Sodré não recebeu nome de ruas, ou de praças na cidade de Marabá, mas, estranhamente, no monumento à Francisco Coelho, no Cabelo Seco, sua imagem em bronze esta incrustada em uma das laterais. Esse Governador do Pará não contribuiu com a instalação do Burgo do Itacaiúnas pois, deixou de pagar as parcelas e, não gostava da ideia daquela povoado, por achar que lá não havia pessoas do Estado do Pará. Realmente é estranho o mérito reverso de Lauro Sodré, por que será?


Fontes: 
Brandão, José da Silva . As origens de Marabá, de 1590 a 1913, pg. 253/56. Editora Chromo Arte, 1998.

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